A CARRUAGEM FANTASMAGÓRICA DE MARYLAND - Narrativa Verídica Sobrenatural - Autor anônimo do séc. XIX
A CARRUAGEM FANTASMAGÓRICA DE MARYLAND
(Baltimore American, maio de 1886)
Autor anônimo do séc. XIX
Tradução de Paulo Soriano
Por quarenta anos, o reverendo Dr. B. foi o pastor de uma proeminente paróquia na Costa Leste.
Quando ocorreram os acontecimentos abaixo descritos, há mais de vinte e dois anos, suas atividades missionárias realizavam-se num raio de dezesseis milhas da cidade em que residia. Estava, portanto, constantemente viajando. A cerca de seis milhas de distância ficava a residência de campo do falecido juiz S., um paroquiano bem conhecido e venerável do digno pastor.
Fazia apenas seis semanas que a grama havia sido removida para cavar-se a cova desse cavalheiro, quando o Dr. B., por acaso, regressava de sua missão, acompanhado por um amigo. Era dia claro, quase pôr do Sol, e não muito longe do portão do juiz S., quando uma carruagem, puxada por um cavalo branco, ultrapassou a do reverendo e logo desapareceu de vista.
— Aquele camarada deve estar com pressa para chegar até C. — comentou o doutor.
— Notou algo de peculiar naquele veículo? — perguntou-lhe o companheiro.
— Apenas que a carruagem se move muito silenciosamente. Não ouvi nenhum ruído quando ela passou.
— Nem eu — disse o amigo. — Nem barulho de rodas, nem de cascos. É certamente estranho.
Naquela conversa, o incidente foi logo esquecido e substituído por outro tema. Eles já haviam transcorrido cerca de uma milha quando, de repente, como antes, o mesmo cavalo e carruagem passaram por eles.
Nada era discernível do cocheiro, salvo os pés, pois o cortinado da carruagem ocultava o seu corpo. Não havia nenhuma outra estrada vicinal pela qual um veículo, que seguia à frente, pudesse ter ficado para trás, sem fazer um circuito de muitas milhas e nele consumir várias horas. No entanto, não havia a menor dúvida quanto à identidade do veículo. Os dois cavalheiros olharam, espantados, um para o outro; um estado de admiração os impedia de tecer qualquer comentário sobre o assunto, especialmente porque tudo indicava que, dada a extrema semelhança, o cavalo em questão era o conhecido corcel branco habitualmente conduzido pelo falecido Juiz.
Meia milha os levou à proximidade da entrada do portão do Juiz S. Mas, pela terceira vez, a carruagem fantasmagórica os ultrapassou, correndo, no mesmo misterioso e terrível silêncio. Desta vez, o carro virou-se para o portão. Sem tecer qualquer comentário, o médico impôs velocidade ao seu cavalo e alcançou o portão apenas alguns metros atrás do cocheiro silencioso.
Ambos os cavalheiros espiaram ansiosamente a longa e aberta pista que conduzia à casa; mas não eram visíveis a carruagem e o rastro de suas rodas, malgrado ainda fosse dia claro, e não houvesse desvios na pista, e nem fosse possível, a qualquer veículo, naquele lapso de tempo, percorrer metade da distância em questão.
O que torna peculiares e estranhas as características deste incidente é o fato de que ele foi observado simultaneamente por testemunhas absolutamente surpreendidas por tal manifestação, e que amplamente diferiam em temperamento, hábitos de vida, capacidade mental e propensões educacionais. Ainda assim, por mero acaso, fizeram juntas esta viagem. Até hoje, ambas as testemunhas — note-se, de credibilidade inquestionável — atestam o ocorrido e corroboram totalmente uma à outra. Contudo, continuam incapazes de sugerir a menor explicação ao incidente.
Fonte: “The Best Ghost Stories”, Boni & Biveright, Inc., Nova York, 1919.
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