ALUGA-SE - Conto de Terror - Campo Ricardo Burgos López
ALUGA-SE
Campo Ricardo Burgos López
Tradução de Paulo Soriano
1
Augustín Mota passeava por uma rua do bairro San Cristóbal em Bogotá quando viu o anúncio de “ALUGA-SE” e um número telefônico. De imediato entrou em contato, perguntou o preço do aluguel e, vendo que este era muito barato, não hesitou em se inscrever. Poucos dias depois, Augustín chegou ao local e se instalou no dormitório principal do segundo piso da vivenda. A verdade é que a casa de dois andares, com teto de telha tradicional, era grande demais para uma pessoa solteira como ele, mas Augustín gostou do lugar e, além disso, o preço do aluguel era uma pechincha. Na noite de sua chegada, por volta de onze horas da noite, Augustín ligou à irmã para avisar que ia se deitar porque fazia muito frio. Na manhã seguinte, a mesma irmã se cansou de bater à porta da casa para que a abrissem e, finalmente cansada, procurou a ajuda da polícia. Quando as autoridades e a irmã forçaram a porta e ingressaram na vivenda, encontraram Augustín decapitado na cama onde havia adormecido.
2
As investigações policiais que se seguiram ao crime não conseguiu encontrar o culpado; após vários meses de investigação, a Procuradoria-Geral da Nação aceitou que não podia explicar o assassinato, que nenhum responsável havia sido capturado e o caso foi arquivado. Um ano após o trágico evento, o dono da casa, que se chamava César Lorduy, voltou a instalar um aviso de “ALUGA-SE” em uma das janelas da casa.
3
Poucos dias depois de fixado o aviso, a casa foi novamente alugada a um casal de recém-casados: Pedro Barreto e Dominica Solano. César Loudy esteve a ponto de contar-lhes o que ocorrera ao inquilino anterior, mas pensou que, em o fazendo, os seus clientes ficariam assustados e talvez não fechasse o negócio. Assim, guardou silêncio. O casal Pedro e Dominica mudou-se à sua nova residência numa quarta-feira e naquela noite prepararam a sua cama de casal no quarto principal do andar superior. Na manhã seguinte, ambos foram encontrados decapitados em meio a uma descomunal poça de sangue.
4
Novamente, o Ministério Público e a polícia assumiram as investigações e, após vários meses de inquérito, mais uma vez não foi encontrado nenhum responsável pelo crime. César Lorduy, sinceramente arrependido, admitiu que não havia avisado o casal do assassínio que fora cometido na casa. As autoridades fizeram-lhe uma repreensão verbal, mas foi tudo. Em ambas as ocasiões, os investigadores chegaram a suspeitar do proprietário da casa, mas em ambas oportunidades não foi possível apresentar provas contra ele. Quanto a César, não podia compreender nada do que ocorrera nas duas tragédias. Ele era apenas o herdeiro da casa onde a sua família morara e que, com o passar do tempo, ia ficando solitária, à medida que os seus moradores se iam paulatinamente retirando.
5
Em face dos três selvagens assassinatos ocorridos na casa, César ficou desnorteado e não sabia o que fazer. Assim, acabou por vender a casa por uma bagatela e um novo proprietário, Max Sánchez, chegou ao local. Max Sánchez foi informado por César das decapitações ocorridas na casa, mas, ainda assim, a comprou. Tão logo a teve em seu poder, Max demoliu-a e no lugar construiu um edifício de três andares, e em cada andar instalou um apartamento independente que em pouco tempo alugou a quatro inquilinos: José Hierro, que escolheu o primeiro andar, o casal Carlos Gamero e Melissa Rueda, que escolheu o segundo e Elba Moritán, que escolheu o terceiro. Os novos moradores do edifício mudaram-se ao longo de duas semanas e, num sábado à noite, foram dormir desprevenidos. Na manhã seguinte, os quatro foram encontrados decapitados, cada um em seu respectivo apartamento.
6
Desta feita a imprensa, ao tomar conhecimento dos homicídios, armou um enorme alarido, porque um jornalista descobriu que o edifício se situava no mesmo lugar onde estivera a antiga casa onde, no passado, haviam ocorrido três decapitações. As autoridades assumiram a investigação do crime múltiplo e, apesar de promotores e detetives terem-se empenhado arduamente no caso, não foi possível esclarecê-lo ou encontrar o culpado ou culpados do massacre. No edifício não pistas e ninguém conseguia explicar como ou quando o assassino ou assassinos tinham entrado no edifício. Nenhum vizinho tinha visto ou ouvido nada, não havia testemunhas. Max Sánchez estava assustadíssimo e, mais uma vez, a polícia procurou César Loudy, que ouviu aterrorizado a história e bendisse o momento em que se tinha afastado do prédio. Após mais um ano de investigações técnicas, o caso foi declarado encerrado sem que houvesse qualquer explicação aos incidentes.
7
Chocado com o que havia acontecido e dominado por um temor sobrenatural, Max Sanchez igualmente vendeu o edifício por qualquer preço. Comprou-o um aventureiro argentino chamado Hector Gambini, que se sentiu atraído pela sinistra história da casa e do edifício construídos na propriedade. Assim que Hector recebeu as chaves do prédio, para lá correu com dois amigos e com eles instalou-se no terceiro andar do edifício. Antes de se deitar, Hector contou aos amigos os seus planos para o edifício: intentava promover o imóvel como “O Edifício Maldito”, divulgando os horrendos crimes ali ocorridos e alugando cada um dos três apartamentos por apenas uma noite àqueles que se atrevessem a lá dormir. Os três homens beberam várias garrafas de uísque, agourando o sucesso comercial da iniciativa, e, no dia seguinte, foram encontrados decapitados no meio de três poças bestiais de sangue.
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Após o novo massacre, iniciou-se uma quarta investigação policial que, mais uma vez, não levou a nada: novamente, as autoridades ficaram perplexas com o assassino ou assassinos que não tinham deixado qualquer rastro ou pista. Mais uma vez, nada foi esclarecido. Os vizinhos do edifício, tomados por um pânico antinatural, abandonaram progressivamente as casas vizinhas, até que um dia todo o quarteirão ficou desabitado. Ninguém queria viver ao lado de um edifício que tinha adquirido a fama de maldita. Hoje, o prédio está abandonado, os herdeiros de Gambini não quiseram aceitá-lo por herança e a Câmara Municipal de Bogotá apropriou-se do edifício, porque, quando este foi leiloado, ninguém quis comprá-lo. Diz-se que as autoridades planejam demoli-lo no futuro, mas nada é claro. É surpreendente que, apesar de não haver vigilância sobre o edifício, nem mesmo os sem-teto se atrevam a passar lá a noite.
Este conto foi publicado originariamente, em português e espanhol, na revista Relatos Fantásticos. Para acessá-la, clique AQUI .
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