CATALEPSIA - Narrativas Clássicas de Horror - Autores anônimos dos séculos XIX e XX

CATALEPSIA

Autores anônimos dos séculos XIX e XX


1

SEPULTADA VIVA

Autor anônimo do séc. XIX.


Escrevem de Madri ao Droit, jornal de Paris:

Uma senhora imensamente rica, vendo que a epidemia, que dizima de um modo horroroso a população de Lisboa, poderia também atacar e terminar a sua existência, mandou chamar um dos seus sobrinhos, a quem destinava a sua imensa herança, com a cláusula de dar parte dela a uma sobrinha, que designava.

Alguns dias depois, a febre amarela ou tifo teria atacado a tia milionária. Em algumas horas, a doença tez tais progressos que a pobre tia foi abandonada como morta pelos médicos.

A doença que reina em Lisboa é tão cruel como o cólera; os mortos passam, em pouco tempo, a um estado de putrefação que torna perigosa a permanência de um cadáver em casa.

Por isso, tratou-se do enterro 4 ou 5 horas depois de atestado o falecimento. A tia foi metida no caixão e a levavam para o cemitério.

Ia realizar-se o enterro quando um dos coveiros julgou ouvir uma espécie de gemido abafado e um pouco surdo, e deu parte disso ao seu companheiro, que não quis acreditar.

Um segundo gemido deu aos coveiros uma certeza tão fora de dúvida para eles que um deles foi buscar a chave do caixão à casa do sobrinho, cujas lágrimas já estavam secas.

O coveiro contou sumariamente o que se tinha passado e pediu a chave do caixão. O sobrinho, aturdido com a notícia, vacilou se devia ir ou não até o cemitério. Finalmente, decidiu-se a acompanhar o coveiro e, chegando ao cemitério, achou o caixão de sua tia cercado de muitas pessoas atraídas pela curiosidade.

Abriu-se o caixão e um médico declarou que a suposta finada acabava de expirar asfixiada.

A justiça foi ao local e procedeu a um inquérito de que resultou a prisão de duas pessoas.”


Fonte: Diario do Rio de Janeiro/RJ, edição de 19 de fevereiro de 1858.


2

ACORDADO EM PLENA AUTÓPSIA

Autor anônimo do início do séc. XX


Um fato interessante acontecido no 2º batalhão de polícia aquartelado nesta cidade nos foi relatado pelo Sr. Dr. João Monteiro, médico legista da polícia de nossa cidade. Ei-lo:

Alguns soldados do 2º batalhão despertaram certo dia e notaram que um de seus companheiros havia ficado imóvel no leito, contra os costumes da casa, por terem sido despertados à hora pelas cornetas.

Tratando então de despertar seu companheiro, um soldado aproximou-se do leito e, puxando-lhe a cobertura, notou que aquele não dava sinais de vida.

Chamado o médico do batalhão, foi verificada a morte. Porém, como se tratasse de uma morte misteriosa, o médico resolveu fazer a autópsia.

Tendo preparado para tal, foi o cadáver transportado para lugar próprio. Dando inicio à autópsia, o médico começou por fazer um golpe no tórax. Mal, porém, tinha o instrumento ferido o corpo do soldado, este deu um formidável grito, verificando-se então tratar- se de um ataque de catalepsia.

E, assim, depois de curado da incisão feita por ocasião da autópsia, voltou o saldado, alegre, novamente às faxinas.


Fonte: O Pharol/MG, edição de 19 de maio de 1914.


3

A DEFUNTA RESSURRECTA

Autor anônimo do séc. XIX


No distrito de Tambaú, achava-se bastante enferma a Sra. D. Gertudes Maria Mendes, vindo a falecer no dia 21 de fevereiro.

Como é de costume no Interior, quando morre qualquer pessoa, reúnem-se os vizinhos para guardar o corpo e fazer orações.

Porém, quando regulavam 12 horas da noite, todos da casa ouviram um gemido muito forte e ficaram assustados, de olhos esbugalhados, em direção ao cadáver de D. Gertudes.

Logo após, outro gemido, e sentiram que o corpo da defunta fazia esforço por se virar. Os assistentes, que se achavam de joelhos em terra, a rezar, se foram levantando e procurando o lado da porta da rua.

D. Gertrudes fez um pequeno esforço e pôde se sentar. Neste momento, todos que ali se achavam correram espavoridos pelo que acabavam de ver, deixando a pobre senhora a sós.

O seu marido resolveu ver de perto e, observando que a sua esposa se achava realmente viva, caminhou para junto dela, a abraçá-la.

Ela pediu-lhe que lhe desse remédio, ele continuou a ministrar os mesmos medicamentos e, no espaço de quinze dias, pôde ver a sua senhora completamente restabelecida.

Trata-se certamente de um caso de catalepsia.


Fonte: Monitor Campista/RJ, edição de 8 de maio de 1900.


4

FATAL CATALEPSIA

Autor anônimo do séc. XIX


Em Vismenet, cantão de Laissac, Suíça, deu-se um caso de catalepsia, cuja consequência foi fatal, por falta de verificação do óbito na ocasião oportuna.

Um velho de nome Alary, de sessenta anos de idade, teve um ataque de paralisia, caindo depois em absoluto estado de letargia. Esteve insepulto vinte e quatro horas e, durante este tempo, pela rigidez que apresentava, todos julgaram-no morto.

Foi enterrado.

No dia seguinte, trabalhava o coveiro ao lado do túmulo que encerrava os restos de Alary, quando ouviu umas pancadas secas dentro do caixão. O pobre homem, tomado de um pânico enorme, abandonou o trabalho e correu, espavorido, para sua casa, onde, apenas chegou, caiu desmaiado.

Prestaram-lhe os primeiros socorros e conseguiram fazê-lo voltar a si, narrando ele, então, o que ouvira, em um estado extraordinário de agitação nervosa.

Correram então muitas pessoas ao cemitério e, perante as autoridades, foi aberto o caixão.

Lá estava o cadáver ainda muito quente, o que demonstrava que a morte dera-se momentos antes, verificando-se mais tarde que o desgraçado falecera por falta de ar.


Fonte: Monitor Campista/RJ, edição de 10 de janeiro de 1890.


5

UMA RESSURREIÇÃO

Autor anônimo do séc. XIX


Tem-se falado muitas vezes dos perigos resultantes dos enterramentos precipitados.

Os jornais de Bruxelas com um caso de uma criança que esteve para ser vítima de um engano.

Uma mulher, moradora da rua Blaes, foi há dias declarar que lhe morrera um filho. Um médico, encarregado pela junta de saúde, apresentou-se, a fim de atestar a morte: a cor da face era cadavérica, o corpo estava frio e o coração deixara de bater. Não havia que duvidar de um falecimento.

O médico, a fim de facilitar as suas verificações, levantara um dos braços do cadáver; esse braço, porém, conservou a posição que lhe deram.

Estava em presença de um caso de catalepsia.

Imediatamente, o médico prestou à criança os socorros de que ela precisava e, ao fim de algumas horas, tinha, assim se pode dizer, recuperado a vida.

Esta ressurreição produziu grande sensação na rua Blaes. Pouco faltou para que o médico fosse considerado como um feiticeiro.


Fonte: Monitor Campista/RJ, edição de 13 de janeiro de 1882.


6

UM CASO HORRÍVEL

Autor anônimo do séc. XIX


No dia 21 de março faleceu, em Paranaguá, o padre Pedro Gomes na avançada idade de 97 anos.

Por ocasião de dar-se-lhe sepultura, foram as pessoas que se achavam presentes tomadas de espanto e, ao mesmo tempo desgosto, pelo que passo a narrar.

Como todas as catacumbas do cemitério estivessem ocupadas, teve de lançar-se mão de uma onde se achava o cadáver do jovem Maristany, capitão e proprietário da polaca1 espanhola Teresina.

O jovem Maristany faleceu ali há quatro anos repentinamente, e os timoratos, atribuindo a um caso fulminante de febre amarela, de cuja moléstia um outro era atacado, foi o cadáver sepultado sem esperar-se as vinte e quatro horas.

Agora, ao abrir-se a catacumba, encontrou-se o caixão arrombado no lado da tampa, as pernas do finado para fora e os braços na posição de quem procurava sair do estreito espaço em que o haviam colocado. Concluiu-se daí que o infeliz moço, tendo sido acometido, sem dúvida, de catalepsia, fora sepultado vivo!


Fonte: Monitor Campista/RJ, edição de 3 de maio de 1878.


7

MORTA DURANTE DEZESSEIS HORAS

Autor anônimo do séc. XIX


P… é um proprietário que goza de uma grande fortuna e da estima de todos que o acercam. Há perto de dez anos que casou com uma linda mulher e deste consórcio duas encantadoras crianças.

P… tem todos os motivos para se julgar o homem mais feliz e, todavia, esta felicidade completa foi perturbada por uma catástrofe que lançou o luto e a desolação nesta família onde só era conhecida a ventura.

No dia 26 de junho, P… e seus filhos esperavam a Sra. P… na sala de jantar para tomarem assento à mesa; já tinha passado a hora.

Como ela não chegasse, Jorge, deliciosa criança de 5 anos, foi mandado por seu pai advertir a mãe de que a esperavam.

Instantes depois, o menino voltou com os olhos cheios de lágrimas: tinha encontrado a mãe estendida em uma poltrona e, dizia ele, não respondia aos seus reiterados chamamentos.

P… correu logo ao quarto de sua mulher e certificou-se da exatidão do relatório que lhe tinha feito o menino.

Não se pode descrever a do de P… e de seus filhos.

Era muito feliz — exclamou ele — e pago a minha felicidade!

Foi chamado a toda pressa o médico da família e, depois de muitas tentativas de reanimar a jovem senhora, ia anunciar a P… que se devia resignar com a desgraça que o feria, quando julgou notar um leve rosado nos lábios da Sra. P…

Mandou-se imediatamente chamar o Dr. X., célebre estudos sobre a catalepsia. Não lhe custou reconhecer que a senhora P… era presa de um sono letárgico e empregou, então, todos os recursos da ciência para combater, com sucesso, os efeitos da catalepsia.

Os seus esforços tiveram o resultado que esperava e, no dia seguinte, às 10 horas da manhã, a Sra. P… estava restituída à vida. Contou ela que, durante o sono, tinha perfeitamente visto e ouvido tudo o que se passava, tudo o que se dizia junto dela. Acrescentou que, apesar dos seus esforços, não tinha conseguido chegar a fazer um único movimento.

Não senti nenhuma dor física; porém, as vossas lágrimas fizeram-me sofrer muito. Via-os tão desesperados!


Fonte: Monitor Campista/RJ, edição de 3 de agosto de 1877.


8

UMA FÚNEBRE TRAGÉDIA

Autor anônimo do séc. XIX


Uma correspondência de Nápoles refere um tocante caso de amor filial.

Lúcia G. era mais simpática criança da província: uma moreninha que prometia ser uma deslumbrante formosura do meio-dia.

Sua mãe, Rosa, casada com um guarda, e era sujeita a ataques de catalepsia.

Morreu de um desses ataques ou, pelo menos, os médicos assim o acreditaram. Foi armado de preto o seu quarto e exposto o cadáver, segundo o costume das províncias napolitanas, numa essa, entre quatro tochas. À noite, uma velha religiosa não clausurada, que se chama em italiano “monana de casa”, ficou velando junto da defunta.

Tinha afastado desta a Luciazinha, louca de dor. Mas, de noite, ela enganou a vigilância dos parentes, que a julgavam adormecida, e correu a câmara mortuária. A menina subiu, de mansinho, a essa e pôde abraçar a mãe, cujo rosto ela regou de ardentes lágrimas.

Que se passou? Só Deus o sabe. Pela manhã, quando foram levantar o cadáver, Rosa soltou um gemido, abriu os olhos; reconheceu a filhinha, imóvel, junto dela, ergueu meio corpo, olhou com horror para os panos negros que forravam as paredes, e compreendeu!

Felizmente, Rosa não morreu de medo. Ajudaram-na a descer da essa… Mas, quando quis tomar nos braços a filha, esta não se prestou a isso. Parecia adormecida… Dormia o sono eterno.

Matou-a a dor, ou a alegria de ter sentido nos lábios o sopro de sua mãe ressuscitada, dessa mãe que ela tinha despertado com us suas lágrimas, como o rocio faz reviver uma flor curada pelos ardores do Sol.

Ninguém o pode dizer.

A câmara continuou armada de preto. Somente o cadáver da Luciazinha foi ocupar na essa o lugar onde esteve o corpo da mãe.


Fonte: Correio da Victoria/ES, edição de 21 de setembro de 1870.


9

MORTA E VIVA

Autor anônimo do séc. XIX


Um jornal francês noticia a seguinte ocorrência, sucedida na povoação de Sainte-Marie da Blanche:

Uma pobre mulher, a quem dera um surto apoplético, tombou a um rio, de onde foi retirada cadáver, segundo a asserção do médico.

Passadas quarenta e oito horas, foi conduzida ao cemitério. Apenas o coveiro tinha lançado as primeiras pazadas de terra sobre o ataúde, pareceu-lhe que saía do fosso uma voz gemente.

Espavorido, correu a participar o incidente ao cura e, acudindo este, verificou-se desde logo o mesmo fato, pois os gemidos prosseguiam.

Procedeu-se imediatamente à exumação e abertura do féretro e, examinando o corpo da mulher, viu-se que tinha perdido a rigidez e ganho algum calor.

Depois e fortes fricções e de aplicação de vários medicamentos, a mulher abriu os olhos e balbuciou algumas palavras, mas faleceu daí a pouco, sendo novamente inumada no dia seguinte.


Fonte: Jornal da Trade/SP, edição de 31 de janeiro de 1881.


Fizeram-se breves adaptações textuais.


Nota:

1Embarcação de três mastros.



Comentários

  1. Olá queria recomendar um canal sobre terror casos criminais e sobrenaturais. https://youtube.com/@mauraportelav

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