O CADÁVER RESSURRECTO - Narrativa Verídica de Terror - R. Arthur Hall
O CADÁVER RESSURRECTO
R. Arthur Hall
(Sécs. XIX e XX)
Tradução de Paulo Soriano
Há cerca de quarenta anos — ou seja, por volta de 1890 —, meu avô, Reginald Easton1, estava conosco em Dinham Hall, Ludlow, e dormia no quarto contíguo ao meu. Entre os cômodos, havia uma porta. Bem cedo, de manhã, fui acordado por uma desesperada voz chamando “Arthur! Arthur!”. Imediatamente, corri para o quarto ao lado e encontrei meu avô sentado na cama. Estava ele deveras perturbado. Disse-me que tivera um sonho. A meu pedido, ele narrou-me o que sonhara.
Em seu sonho, estava ele hospedado com um velho amigo em Breede Hall, Staffordshire. Passeava, num belo dia, pelo parque, seguindo em direção à velha igreja da vila. Passando pelo portão de entrada e percorrendo o caminho entre lápides e monumentos, chegou ao antigo alpendre. Ao entrar, ouviu tocar o sino, anunciando um funeral. Em vez de entrar na igreja, recuou ao caminho, pretendendo, até que o funeral terminasse, inspecionar algumas das lápides e memoriais do cemitério. Logo ele viu o cortejo fúnebre percorrendo o caminho até o velho pórtico. Ficou surpreso, ao indagar pelo nome do falecido, que este era um de seus mais velhos amigos, o Sr. Monckton, de Summerford Hall, a alguma milhas de distância. Sabendo disto, mudou de ideia e foi à igreja para as exéquias, sentando-se no fundo da nave. Assim que o féretro foi colocado no estrado do presbitério, um velho sacristão, de revoltante aspecto, aproximou-se do catafalco e disse-lhe: “Sei que é mais antigo amigo do Sr. Monckton. Se assim é, pode-nos conduzir ao mausoléu após a cerimônia?”
— Depois da cerimônia — disse o meu avô —, o vigário, cujo semblante se assemelhava a uma maçã murcha, ergueu o caixão aos ombros de quatro homens para levá-lo ao mausoléu. O pequeno e velho sacristão, aproximando-se de mim novamente, apontou-me o caminho.
“Descendo vários lances de escadas, fui obrigado a me abaixar para passar pela antiga porta do mausoléu, na qual havia um estrado erguido para receber o esquife. Ao redor, havia trinta ou quarenta caixões de membros da família, alguns deles carcomidos pelo tempo, com esqueletos parcialmente expostos. Assim que o caixão foi colocado no catafalco, os demais membros do cortejo saíram em fila, e o pequeno e velho sacristão, tendo-se novamente aproximado de mim, atirou a tocha, que me tinha sido dada, ao chão viscoso. Um instante depois, ouvi a porta fechar-se e clicar a fechadura. Fiquei sozinho no horrível mausoléu. Andando à volta, gritei para que me deixassem sair, mas não obtive resposta.
“Permaneci nesse estado por meia hora. De repente, houve um violento estalo. Ao ouvi-lo, disse a mim mesmo: “Graças a Deus, finalmente, eles vieram me liberar”. Todavia — para o meu indescritível horror —, vi que eu me enganara: o que eu ouvira fora o cadáver do velho Monckton saindo subitamente do caixão.
“Num instante, o cadáver, que já estava em estado de decomposição, livrou-se do caixão e caminhou em minha direção. Desviei-me do féretro, perseguido pelo velho Monckton, até que finalmente caí exausto no chão, com seu pútrido cadáver sobre mim. Cravando suas unhas profundamente em minha face, rasgou-me a cara. Lutei e lutei para afastar violentamente o cadáver para longe de mim, mas sem consegui-lo. Então acordei e, para meu imenso alívio, encontrei a luz brilhando na janela.”
No dia seguinte, meu avô recebeu a notícia de que o velho Sr. Monckton havia morrido naquela mesma noite.
Fonte: Lord Halifax’s Ghost Book, Robert MacLehose and Company Ltd, The University Press, Glasgow, 1936.
Nota:
1Reginald Easton (1807 – 1893) foi um pintor inglês perito em miniaturas.
Oh barão, esse pintor que ilustra o conto, o Reginald, que incrível...vou ler o conto.
ResponderExcluirSim, excelente ilustração!
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