O SONHO DE LADY GORING - Narrativa Clássica Verídica Sobrenatural - Lady Margaret Shelley
O SONHO DE LADY GORING
Lady Margaret Shelley
(1856 – 1947)
Tradução de Paulo Soriano
Certa feita, Lady Goring viu claramente, num sonho, uma antiga casa, que lhe era desconhecida. Sabia que uma mulher a acompanhava, e que visitava a casa com um objetivo definido.
Ao entrar, viu uma sala singular, cuja imagem ficou-lhe gravada na mente. Havia um friso muito interessante junto ao teto; as janelas gradeadas tinham um formato peculiar, longo e estreito, e se ligavam por uma moldura impressionante.
Em seu sonho, viu uma mulher idosa e encurvada sentada numa poltrona junto à lareira. Pouco depois, sua atenção desviou-se para a porta, que suavemente se abria.
Viu entrar um homem e esgueira-se rapidamente até mulher idosa, que parecia dormir. De súbito, ele sacou uma pistola, aproximou-a à têmpora da velha senhora e atirou.
Quando a vítima caiu, o assassino ajeitou a arma de forma a parecer que houvesse caído da mão da mulher. Depois, saiu silenciosamente da sala, fechando a porta atrás de si. Retornou logo em seguida e fez algumas alterações na posição da mulher morta e da pistola.
Feito isso, foi embora e não mais retornou.
Lady Goring viu seu rosto tão claramente em seu sonho que a imagem do homicida gravou-se em sua memória.
Com o passar do tempo, ela e seu marido, Sir Craven, quiseram alugar uma casa e inspecionaram várias propriedades. Entre outras, correram uma velha mansão em Cheshire. Assim que Lady Goring entrou no solar, sentiu que o lugar lhe era estranhamente familiar. Foi então que a verdade se lhe revelou.
— Eu nunca estive aqui na minha vida — disse a si mesma —, mas esta foi a casa com a qual sonhei.
Naquele momento, a zeladora disse:
— Esta porta, à direita, leva à sala de estar.
Lady Goring prontamente a corrigiu, dizendo:
— Estou certa de que você se refere à sala de jantar.
A caseira se desculpou, respondendo:
— Eu disse sala de estar? Eu queria dizer sala de jantar.
Assim que abriu a porta, Lady Goring reconheceu o friso notável, as janelas gradeadas e a moldura peculiar. Havia também uma cadeira perto da lareira.
A zeladora, a quem foram pedidas algumas informações sobre a casa, disse aos Gorings que o último locatário não permanecera muito tempo na casa e que a família moradora anterior a este inquilino era estrangeira. Achava que austríaca ou suíça. Eram três: um cavalheiro, sua esposa e sua sogra. Naquele tempo, ocorrera uma triste tragédia, pois a velha senhora tinha-se suicidado. Depois disso, o marido e a esposa foram para o estrangeiro e a casa ficou fechada durante algum tempo.
Lady Goring não alugou a casa, mas, alguns meses depois, enquanto caminhava pela Regent Street, e olhava distraidamente para as vitrines da loja, parou em frente ao estereoscópio. O que a deteve foi uma fotografia na vitrine.
— Ora — ela exclamou para si mesma —, eis aí o assassino do meu sonho!
Ao entrar na loja e perguntar quem seria o homem na fotografia, ela descobriu que era Tourville, que estava sendo julgado pelo assassinato de sua segunda esposa no Tirol.
Fonte: Lord Halifax’s Ghost Book, Robert MacLehose and Company Ltd, The University Press, Glasgow, 1936.
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