O CADÁVER DE CÍCERO VILIPENDIADO POR FÚLVIA - Narrativa Verídica Cruel - Dião Cássio


O CADÁVER DE CÍCERO VILIPENDIADO POR FÚLVIA

Dião Cássio

(c. 155 – c. 229)



E Fúlvia [esposa de Marco Antônio] também causou a morte de muitos, tanto para satisfazer a sua inimizade, quanto para enriquecer-se; e, em algumas circunstâncias, vitimando homens que o seu marido sequer conhecia. Em todo caso, quando via a cabeça do homem cuja morte ordenara, exclamava:

Eu não conhecia este homem!

Quando, porém, um dia, trouxeram ao seu marido a cabeça decepada de Cícero1 — que, em fuga, havia sido alcançado e morto —, Antônio proferiu muitas e amargas injúrias contra aqueles despojos. Depois, ordenou que expusessem a cabeça decepada na mais proeminente das tribunas, para que fosse vista justamente no lugar onde Cícero tantas vezes discursara em seu desfavor, juntamente com mão direita do defunto, tal como houvera sido cortada.

Antes que a cabeça fosse dali removida, Fúlvia tomou-as nas mãos. E, depois de vilipendiá-la e cobri-la de cusparadas, colocou-a sobre os joelhos, abriu-lhe a boca e puxou-lhe para for a língua, traspassando-a com os grampos que usava nos cabelos, ao mesmo tempo em que lhe proferia pilhérias brutais.


Versão em português de Paulo Soriano, a partir da tradução ao inglês de Earnest Cary (1879 ?) e Herbert Baldwin (1874 1906) da “História de Roma”.


Nota:

1Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.C.) é geralmente considerado o maior dos oradores romanos.

 

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