CONFISSÕES DO VAMPIRO DE LONDRES - Narrativas Verídicas de Horror - John George Haig
CONFISSÕES DO VAMPIRO DE LONDRES
John George Haig1
(1909 – 1949)
O Dr. Handerson e sua esposa gostavam de ouvir-me ao piano, durante horas a fio, sem que nada viesse a interromper esses momentos de elevação espiritual.
Possuíam um magnífico cão perdigueiro, ao qual me afeiçoei desde o primeiro dia, como um leal amigo. Desde criança, tive adoração por esses animais. Sempre declarei que, se tivesse dirigindo um automóvel e me visse em situação tal que fosse obrigado a escolher entre atropelar um homem e um cachorro, não vacilaria em lançar meu carro contra o homem.
*
Sempre, de uma maneira ou de outra, meus sonhos apareciam tintos de sangue e desempenhavam, talvez, a parte mais fascinante e terrível de minha vida. O gosto pelo sangue veio-me quando, ainda criança, apanhei na mão com uma escova de cabelo. A mão sangrou e pensei que ia morrer. Entretanto, essa preocupação se transformou numa sensação de prazer quando, para aliviar as dores, lambi o sangue que me cobria os dedos. Sempre que o sangue jorrava, estranha sensação se apossava de mim. O gosto de sangue tornou-se uma obsessão que me perseguiu para sempre.
*
O Dr. Handerson tinha de ser a próxima vítima. Não havia alternativa. Aquela força estranha controlava-me o cérebro e a visão, dominando inteiramente os meus sentimentos e exigindo sangue.
Valendo-me de um pretexto, conduzi-o para minha oficina, em Leopold Road, onde o abati com seu próprio revólver.
Regressei, logo depois, a Erington, para dizer à sua esposa que o doutor fora acometido de mal súbito e me pedira para conduzi-la até lá. Ela não titubeou em acompanhar-me. Com o mesmo revólver, prostrei-a morta.
Ato contínuo, retirei dos cadáveres, ainda quente, um copo de sangue, que bebi.
*
Chego agora ao caso da senhora Durand-Deacon2, a nona vítima do sacrifício.
Matei-a com um tiro na nuca, da mesma forma como procedera com os demais.
Fiz-lhe uma incisão no pescoço, enchendo um copo de sangue que vertia aos borbotões.
Recordo-me de um pormenor: usava ela um crucifixo ao pescoço e senti indescritível prazer em calcá-lo contra o chão, com o pé esquerdo.
*
A questão do destino a dar aos cadáveres já se havia tornado coisa automática, verdadeiro trabalho de rotina. Quando lanço um olhar retrospectivo sobre tudo que fiz, vejo que teria de agir de maneira quase inteiramente diversa, se desejasse levar a efeito uma campanha organizada de crimes para obter recursos financeiros.
*
Haveria tantas outras e tão fáceis maneiras de conseguir lucros financeiros, mesmo por meios fraudulentos. Se o dinheiro fosse, para mim, o principal objetivo, seria muito mais simples eliminar os meus pais e herdar-lhes os bens. Por isto, quero que não haja dúvida a esse respeito.
Tradução de autor ignorado.
Fonte: “Loucos e Criminosos”, artigo de Leonídio Ribeiro (1893 – 1976), publicado em “O Jornal”/RJ, edição de 31 de agosto de 1949.
1John George Haig, chamado de “Vampiro de Londres”, foi um assassino em série inglês da década de 1940. Teria matado pelo menos nove pessoas. O presente texto compõe parte de seu depoimento em juízo. Haig foi executado, por enforcamento, em 10 de agosto de 1949. O médico Leonídio Ribeiro qualificou Haig como indivíduo moço e simpático, dotado de boas maneiras, inteligência e qualidades artísticas; o jornalista Leonard Grible, como homem de voz suave e maneiras gentis.
2Haig confessou que matou a senhora Olive Durand-Deacon, de 70 anos, com um tiro na nuca. Após matá-la, fizera-lhe uma incisão na carótida para lhe recolher o sangue num copo, bebendo-o em seguida. Depois, despojando-a das joias, colocou-lhe o cadáver num tanque, no qual despejou grande quantidade de ácido sulfúrico (Cf. Leonard Gribble, “O Vampiro de Kensington”, “Correio da Manhã”/RJ, edição de 14/01/1956). Efetivamente, Haig desfazia-se dos cadáveres dissolvendo-os em ácido sulfúrico. Antes de empregar a técnica com suas vítimas humanas, fizera experiências com ratos, percebendo que os seus corpos desapareciam em apenas trinta minutos. Haig, após confessar à polícia alguns de seus hediondos crimes, dos quais não restaram vestígios, e certo de sua impunidade, teria indagado: “Como se pode provar um homicídio, se não há cadáver?”
Comentários
Postar um comentário