DOIS CASOS DE COMBUSTÃO ESPONTÂNEA - Narrativa Clássica Sobrenatural - David Brewster

DOIS CASOS DE COMBUSTÃO ESPONTÂNEA

David Brewster

(1781 – 1868)

Tradução de Paulo Soriano



Um dos mais notáveis casos ​​de combustão espontânea foi o da Condessa Cornelia Zangari e Bandi, de Cesena, minuciosamente descrito por Giuseppe Bianchini, cônego da cidade de Verona.

A referida senhora, que contava sessenta e dois anos, retirou-se à cama em normal estado de saúde. No quarto, passou mais de três horas a conversar familiaridades com a sua empregada e a fazer orações. Tendo finalmente adormecido, fechou-se a porta do quarto.

Não tendo sido chamada à hora de costume, a empregada correu à alcova da sua senhora. Não recebendo, todavia, qualquer resposta, abriu a janela e viu o cadáver da senhora no chão, na mais terrível condição.

A uma distância de quatro pés da cama havia um monte de cinzas. As pernas, envoltas em meias, permaneceram intocadas, e a cabeça, meio queimada, estava entre elas. O restante do cadáver, quase todo, fora reduzido a cinzas. No quarto, a atmosfera estava impregnada de fuligem flutuante. No chão, uma pequena lamparina de óleo estava coberta de cinzas, mas não tinha óleo; e, em dois castiçais sobre a mesa, preservava-se o pavio de algodão de ambas as velas, mas e o sebo havia desaparecido. A cama não apresentava danos e os cobertores e lençóis estavam puxados para um lado, como se uma pessoa dela se tivesse levantado.

A partir de um exame das circunstâncias desse caso, supôs-se que uma combustão interna havia ocorrido; que a senhora havia se levantado da cama para se refrescar e que, em seu caminho para abrir a janela, a combustão consumiu seu corpo num processo em que não se produziu qualquer chama hábil a incendiar a mobília ou o assoalho.

O marquês Cipião Maffei foi informado, por um nobre italiano que estivera em Cesena alguns dias após este evento, que, naquela cidade, ouvira dizer que a condessa Zangari tinha o hábito, quando se sentia indisposta, de lavar todo o seu corpo com álcool canforado de vinho.




*



Em momento tão recente quanto 1744, um semelhante exemplo de combustão espontânea ocorreu em nosso próprio país, em Ipswich.

A esposa de um pescador, de nome Grace Pett, da paróquia de St. Clement's, tinha o antigo hábito de, semidespida, descer todas as noites as escadas para fumar cachimbo. Foi o que fez na noite de 9 de abril de 1744. Sua filha, que se deitava com ela, adormeceu e não sentiu falta da mãe até despertar, cedo, na manhã seguinte. Ao se vestir e descer as escadas, encontrou o corpo da mãe, que estava virado sobre o lado direito, estendido sobre a lareira, com a cabeça voltada à grelha e as pernas sobre o chão de pinho: parecia um bloco de madeira queimando com um fogo brilhante, mas sem chama.

Ao apagar o fogo com duas tigelas de água, os vizinhos, atraídos pelos gritos da filha, foram quase sufocados pelo cheiro. O tronco da infeliz mulher estava quase reduzido a cinzas, e parecia um monte de carvão coberto de cinzas brancas. A cabeça, braços, pernas e coxas também estavam muito queimados. Não havia fogo algum na lareira, e a vela, que estava no soquete ao lado dela, estava queimada no castiçal. As roupas de uma criança, de um lado, e um biombo tela de papel, do outro, estavam intocados; e o chão de madeira não estava chamuscado ou descolorido. Dizia-se que a mulher havia bebido bastante gim durante a noite, quando recebera uma filha que havia regressado recentemente de Gibraltar.


 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A MÁSCARA DA MORTE ESCARLATE - Conto de Terror - Edgar Allan Poe

O RETRATO OVAL - Conto Clássico de Terror - Edgar Allan Poe

A MULHER-FANTASMA - Conto Clássico Fantástico - Brian Hayes

LADRÕES DE CADÁVERES - Narrativas Verídicas de Horror - Henry Frichet