UM PIGARRO NAS TREVAS - Narrativa Verídica Sobrenatural - Rogério S. de Farias

UM PIGARRO NAS TREVAS

Rogério S. de Farias

Senhores, senhoras leitoras… o sobrenatural está ao nosso lado. Todos os dias, todas as noites, nós os vemos e ouvimos. Nós, os loucos, os poetas, os sonhadores do terror e da morte, pelo menos.

Certa noite, adormeci tranquilo, coisa rara. Pela janela do quarto, as estrelas brilhavam, aziagas e belas.

Caros senhores leitores, caras senhoras leitoras. A noite estava quieta. Uma aragem suave penetrava, afoita, na minha câmara onírica, a minha alcova de pensamentos abissais e solidão majestosa.

As portas e janelas, todas fechadas. Trancafiadas por dentro para a proteção contra eventuais marginais que perambulam na escuridão da noite para furtar. Menos a janela, no alto do edifício onde moro. Cumpre salientar, seria quase impossível um ladrão escalar para roubar e assaltar, dada as prístinas características arquitetônicas de minha morada.

Ocorreu então o píncaro do fantástico, do terror, do insólito.

No quarto fechado por dentro, eu, o solitário e imortal das trevas, deitado na posição fúnebre, de morto, no leito, ouvi um pigarro. Um pigarro nas trevas! E não era o meu. Alguém, como um Horla de Maupassant, penetrara, invisível, em meus aposentos. Espírito, entidade do Além… O que diabos fora aquilo, o pigarro nas trevas, no silêncio sepulcral da alcova de um solitário poeta da Cidade Azul, o Imortal das Trevas, o Bruxo da Literatura de Horror contemporânea?

Existem seres sobrenaturais e invisíveis, Horlas, que, invisíveis, nos acompanham?

Senhores, Senhoras, somente o inferno poderia responder isso, porém, nós, homens profundos e pensadores do infinito, desconfiamos!… Há seres invisíveis por toda a parte, ao nosso redor, nos espreitando, como anjos ou demônios!