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Mostrando postagens de agosto, 2025

O MENINO MORTO - Conto Clássico de Loucura e Horror - André de Lorde

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O MENINO MORTO André de Lorde (1869 – 1942) Tradução de autor desconhecido do séc. XX Meu secretário entrou no escritório para avisar que um operário desejava falar pessoalmente com o comissário de polícia. Dei ordem para que o fizessem entrar e convidei-o a que me dissesse o motivo da sua visita. Por única resposta, tirou do seu bolso um embrulho amarrado, no qual estava escrito com letra feminina o seguinte: “Ao senhor comissário de polícia.” —Encontrou isto? —perguntei. —Sim, senhor comissário. E o operário narrou que trabalhava na reparação de uma parede, em um pavilhão situado no fim do bairro Vangirard, e que, no dia anterior, aquele embrulho tinha caí junto dele, sem que houvesse podido saber de qual das janelas fora atirado. Vinha, pois, entregar o documento. Depois de agradecer-lhe e despedi-lo, abri o embrulho, que continha um caderno e li: “Junho, 15 — Quando estive no convento, depois que nos retirávamos para o dormitório, escrevia cada noite as minhas ...

A BUENA DICHA - Conto Clássico de Terror - Eugène Fourrier

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A BUENA DICHA Eugène Fourrier (c. 1840 —1903) Tradução de autor desconhecido do séc. XX À idade de doze anos, Lahurec nada tinha de formoso. Entretanto, sua mãe acreditava que ele era a mais admirada criatura da comarca. A boa mulher vivia perto de Saint-Briene, em uma cabana situada nas imediações do mar. Era viúva, porquanto seu marido havia morrido ao regressar da pesca em Terra Nova. Vivia afundada na pobreza, mantendo-se miseravelmente da venda de mariscos que recolhia na praia. Seu filho a ajudava em sua tarefa com proveito, na medida de suas forças. Uma noite de inverno, bateu à porta da cabana uma cigana. A viúva, apesar de sua pobreza, a acolheu generosamente e deu-lhe parte de sua modesta ceia. A cigana, reconhecida, lhe disse, antes de partir: —Para demonstrar-te a minha gratidão pela tua generosa hospitalidade, vou dizer a buena-dicha de teu filho. Sei ler o futuro nos astros e nas mãos. Ato contínuo, segurou a destra do menino e, depois de tê-la examinado ...

NA PRAIA - Conto Clássico de Horror - Abel Juruá

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NA PRAIA Abel Juruá 1 —Até que, finalmente, conseguimos estar juntos! — disse João Crisóstomo a Maurício Ney. — Os cinco anos que estive fora fizeram esquecer-nos um do outro! Por quê? Nem eu mesmo sei! E não fosse o encontro fortuito desta tarde, levaríamos talvez o resto da existência sem nos tornarmos a ver… — Abençoemos, pois, o acaso que nos colocou frente a frente! — respondeu Ney com afabilidade. E os dois amigos, depois de se abraçarem mais uma vez, deitaram-se comodamente na areia. Estavam em Copacabana, em frente ao mar solto, bravio, espumante, e, depois de permanecerem alguns instantes na contemplação daquela maravilha sem igual, puseram-se a recordar as deliciosas horas do passado, e os seus olhos sorriam, num emocionado afeto. —Recordas-te da minha vizinha Letícia, aquela mocetona de tez rosada e fisionomia atraente, que te fazia olhares doces de cima do terraço? — perguntou Maurício. — Morreu, meu caro, morreu em seis meses de uma tuberculose galopante. Não a pud...

O HOMEM QUE SE ENTERROU VIVO - Conto Clássico de Horror - Aluizio Coimbra

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O HOMEM QUE SE ENTERROU VIVO Aluizio Coimbra (1903 – 1951) Havia na esquina do quarteirão de Fabrício um botequim reles e mal frequentado, dirigido pela Guilhermina. Era admirável que uma mulher, e já entrada em anos, conseguisse manter uma relativa ordem naquela baiuca. Mas Guilhermina pertencia à classe desses viragos que são muito mais que homens. Alta, gorda, possante, confiava aos seus braços de atleta obeso o policiamento da tasca. Muitas e muitas vezes tinham-na visto pôr fora, a trompaços, fregueses recalcitrantes. Para os devedores remissos, usava o recurso de entrar-lhes pelas casas a dentro e tomar-lhes os móveis. E, nos casos extremos, contava com o auxílio do cabo Amaro, que era seu amante há quinze anos e quase sempre estacionava no bairro. A mulher suportava de má cara o Fabrício. Este era um tipo viciado e insolente que, uma vez por outra, onde quer que estivesse, levantava uma arruaça. Tinha os bofes no pé da goela para dizer desaforos. Por causa dele, em mais ...