SINAIS VAMPÍRICOS - Narrativa Clássica Sobrenatural - Montague Summers
SINAIS VAMPÍRICOS
Montague Summers
(1880 – 1948)
Tradução de Paulo Soriano
Observou-se que, num cemitério, frequentemente encontravam-se várias pequenas passagens, do tamanho do dedo de um homem, perfurando a terra; considerava-se, então, que, num sepulcro, a presença de semelhante saída de ar era um sinal inequívoco de que, em sendo feita uma investigação, descobrir-se-ia um cadáver com todas as evidências de vampirismo.
Exumado o cadáver, perceber-se-ia — ainda que a morte houvesse ocorrido há muito tempo — que no corpo não haveria sinais de putrefação, nem vestígios de corrupção, nem de decomposição, senão apresentar-se-ia carnoso e de tez clara; o rosto, frequentemente, exibir-se-ia corado; o morto estaria inteiriço, como se num estado de sono profundo. Por vezes, os olhos estariam fechados; mas, com maior frequência, permaneceriam abertos, vidrados, fixos, a lançar um olhar feroz. Os lábios, profundamente túrgidos e vermelhos, estariam afastados dos dentes, que brilhariam longos, afiados como lâminas e brancos como marfim. Muitas vezes, a boca, escancarada, estaria manchada, maculada dum sangue — o sobejo do banquete da noite anterior —, que se deixava escorrer dos cantos dos lábios para as mortalhas enrelvadas e para os adereços de linho.
No caso de uma epidemia de vampirismo, registra-se que eram descobertas sepulturas inteiras encharcadas e saturadas de sangue fervente, que o horrendo habitante devorou até ficar saturado e, sobre elas, vomitou em grandes quantidades, tal como uma sanguessuga inchada exsudaria ao ser atirada à salmoura.
Na Grécia, pensa-se que a pele do cadáver tornar-se-ia extremamente dura e distendida, de tal modo que as articulações dificilmente poderiam ser dobradas; a pele humana haver-se-ia esticado como o tegumento de velino de um tambor, e que, se tocada, emitiria aquele som; daí o grego vrykolakas, τυμπανιαῖο̬ (similar a um tambor).
Não era infrequente ver que o morto, em seu sepulcro, havia devorado tudo o que o rodeava, triturando-o com os dentes e — como se supunha — emitindo um ruído baixo e estridente, como o grunhido de um porco que remexe o lixo.
Na sua obra, “De Masticatione Mortuorum in Tumulis”, Leipzig, 1728, Michael Ranft1 trata extensamente deste assunto. Ele afirma que é bem certo que alguns cadáveres devoraram as suas mortalhas e mesmo roeram a própria carne. Sugeriu-se que esta é a razão primeva pela qual as mandíbulas dos mortos eram firmemente atadas com faixas de linho.
Ranft cita o caso de uma mulher da Boêmia que, ao ser desenterrada em 1355, permitiu a visão de que havia devorado a maior parte da própria mortalha.
Noutro caso, ocorrido no século XVI, um homem e uma mulher pareciam ter arrancado os intestinos aos cadáveres, e estiveram, de fato, a devorar-lhes as entranhas.
Na Morávia, exumou-se um cadáver que tinha devorado as vestes mortuárias de uma mulher enterrada não muito longe do seu túmulo.
Fonte: “The Vampire”, Ed. Kegan Paul, Trench, Trubner & Co., Ltd., Londres, 1928.
Nota:
1Michael Ranft (1700 – 1774), pastor luterano, escritor e historiador alemão, conhecido por seus escritos sobre vampiros na Alemanha.
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