A EXECUÇÃO DE RAMIRO DE ORCO - Narrativa Clássica Verídica Cruel - Nicolau Maquiavel
A EXECUÇÃO DE RAMIRO DE ORCO
Nicolau Maquiavel
(1469 – 1527)
Tradução anônima
Tomada que foi a Romanha, encontrando-a dirigida por senhores impotentes, os quais mais depressa haviam espoliado os seus súditos do que os tinham governado, dando-lhes motivo de desunião ao invés de união, tanto que aquela província era toda ela cheia de latrocínios, de brigas e de tantas outras causas de insolência, o duque [César Bórgia] julgou necessário, para torná-la pacífica e obediente ao poder real, dar-lhe bom governo.
Por isso, aí colocou Ramiro de Orco, homem cruel e solícito, ao qual deu os mais amplos poderes. Este, em pouco tempo, tornou-a pacífica e unida, com mui grande reputação.
Depois, entendeu o duque não ser necessária tão excessiva autoridade, e isso porque não duvidava pudesse vir a mesma a tornar-se odiosa; instalou um juízo civil no centro da província, com um presidente excelentíssimo, onde cada cidade tinha o seu advogado.
E, porque sabia que os rigorismos passados tinham dado origem a algum ódio, para limpar os espíritos daquelas populações e conquistá-las completamente, quis mostrar que, se alguma crueldade havia ocorrido, não nascera dele, mas sim da triste e cruel natureza do ministro.
E, servindo-se da oportunidade, fez colocarem-no uma manhã, na praça pública de Casena, cortado em dois pedaços, com um pau e uma faca ensanguentada ao lado.
A ferocidade desse espetáculo fez com que a população ficasse ao mesmo tempo satisfeita e pasmada.
Tradução de autor desconhecido.
Fonte: MEC/Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br/).
Ilustração: Francesco Granacci (1469 — 1543).

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