SEXO COM O DIABO - Conto de Terror - Alessandro Reiffer
SEXO
COM O DIABO
Alessandro
Reiffer
Poucos
acontecimentos me causaram uma sensação tão dilacerante de tristeza e
fatalidade como a impiedosa maldição que recaiu implacável sob aquela bela
menina, a infeliz Daniele. Muitos simplórios insistem em crer que tudo não
passou de algum terrível mal meramente orgânico, uma enfermidade desconhecida,
de origem unicamente física. Todavia, não apresentam provas do que afirmam, nem
mesmo indícios. Todos os exaustivos exames realizados não obtiveram o mínimo
esclarecimento, e o caso permanece obscuramente inexplicável, pois nenhum
possível agente patogênico foi encontrado no corpo de Daniele, nenhum de seus
órgãos apresentava qualquer deficiência, no entanto, a menina enfraquecia cada
vez mais...
Conheci
muito bem a pobre Daniele. Melhor ainda, o que ocorreu com ela. Quando surgiu
das trevas aquele demônio, a menina não tinha mais que 15 anos. Eu, quatro anos
mais velho, estava absolutamente fascinado com sua beleza e expressão de
ternura e inocência. Mais um passo, e cairia nas garras insanas da paixão. Mas,
talvez, Daniele não fosse tão inocente quanto sugeria sua doce fisionomia.
Estou firmemente convicto de que a demoníaca maldição foi atraída por sua
própria vontade, como funesta conseqüência de seus terríveis e irrefreáveis
desejos sexuais, os quais todas as noites a assaltavam até exaurirem
miseravelmente sua energia vital. Sei de tudo, porque fui um observador assíduo
de sua vida, queria conhecê-la a fundo. Fui a única testemunha da infernal
cena. Minha atração pela menina era tão veemente que me utilizei de todos os
meios ao meu alcance para retirar o véu de sua existência.
Posso
afirmar com segurança que durante quase dois anos soube que a formosa e plena
de vida Daniele deitava-se em seu leito, cobria-se com um lençol ou cobertor e
principiava a acariciar seus seios e órgão genital durante prolongados minutos,
ou seja, masturbava-se com uma tremenda volúpia sexual. Estando Daniele em
plena adolescência e sendo ainda virgem, a energia sexual da menina
encontrava-se em seu ápice, em seu esplendoroso e arrebatado afloramento.
Percebiam-se as correntes energéticas percorrendo em fosforescente eletricidade
todo o seu superexcitado organismo, incendiado pelo desejo sexual. Contudo, tal
energia poderosa e incontrolável era todas as noites descarregada no ambiente
penumbroso de seu quarto através da masturbação. Sua energia sexual, quando
ainda em seu corpo físico, antes do orgasmo, oferecia aos olhos uma fulgurante
visão que brilhava deslumbrantemente nos canais etéricos de seu formoso
organismo. Entretanto, uma vez jorrada no ambiente externo pelo orgasmo, aquela
cintilante energia multicolorida tornava-se opaca, avermelhada e sanguinolenta,
às vezes pendendo para o negro. Para onde iria toda aquela energia? De alguma
forma ela seria aproveitada... Lembremos da célebre sentença de Lavoisier:
“Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A energia se transforma,
como a energia sexual de Daniele, que se metamorfoseou pela infrene
masturbação. De límpida e fulgurante, tornou-se escabrosa e pestilenta.
A
energia alastrava-se pelo ambiente astral de seu quarto, e este, com o passar
dos dias e com a repetição dos atos masturbatórios, foi acumulando toda aquela
energia sexual desperdiçada. Foi acumulando, até que, em certa noite tenebrosa,
que ainda sinto calafrios ao recordá-la, uma negra e espantosa presença
diabólica penetrou pela porta de seu quarto... Irradiavam-se pestilências e
malignidades da coluna vertebral visível daquela coisa. E ela foi lentamente
sugando através de asquerosos tentáculos membranosos a densidade energética ali
presente.
Aquilo
era como um repulsivo espectro que flutuava abjetamente pelo ar. Tinha olhos
amarelados e doentios, arregalados e com veias proeminentes. Arrastava uma
imensa cauda imunda e, na cabeça, apresentava um par de orelhas
desproporcionais e repugnantes que balouçavam constantemente. Sua face
envelhecida e impregnada de furúnculos, com um nariz de formato suíno, causava
uma repulsão e um medo arrepiantes. Suas mãos escamosas eram enormes e
projetadas para frente, com unhas curtas e pontiagudas, de uma nojenta cor
arroxeada. Aquela coisa esvaziou o ambiente, sorvendo com repelente prazer a
energia sexual despejada na atmosfera por Daniele. Minha impressão negativa foi
tamanha que me retirei do local e somente a ele retornei uma semana depois.
Quando o fiz, meu horror foi ainda maior, ao contemplar, no aposento iluminado
somente pelo luar, aquele ser diabólico sobre o corpo de Daniele, realizando um
revoltante ato sexual com a menina. Esta aparentava sentir um imenso prazer,
porém, seguramente, não tinha consciência do imundo demônio que estava sobre
ela. Para Daniele, tudo não passava de masturbação. No entanto, o hediondo
diabo, astralmente, aproveitava-se de forma perversa da assombrosa luxúria da
adolescente, drenando toda sua energia vital e assim mantendo a sua ominosa
existência.
Após
presenciar tão chocante cena, não tive mais ímpetos de à noite visitar minha
admirada menina, tamanha era minha perturbação. Dias depois, caminhando abatido
pelas ruas, ocorreu-me o feliz incidente de encontrar Daniele. Como nos
conhecíamos, chamei-a para termos uma breve conversa. Disse que a achei um
tanto magra e desanimada e perguntei se estava sentindo-se bem. A menina,
entristecida, macilenta e com fundas olheiras, respondeu-me que fisicamente
sim, mas não psicologicamente. Declarou que sofria de horríveis pesadelos. Em
um deles, disse-me que via espiar furtivamente pela porta de seu quarto uma
horripilante e repulsiva velha de aparência inominável. A velha ria
malignamente de Daniele, em um riso torpe e encatarrado; em seguida, piscava
seus enormes olhos dilatados e se ocultava atrás da parede. Daniele contou-me
ainda que ouvia seus passos arrastados distanciarem-se lentamente de seu
quarto. Então se acordava em estado de indizível pavor. Tais sonhos repetiam-se
frequentemente. A menina narrou-me também que certo dia, durante o final da
tarde, viu, sentado sobre um muro, um homem estranho e muito feio que a olhava
fixamente e apontava-lhe o dedo indicador como em um sinal de advertência.
Então o homem pulou do muro, sorriu sinistramente e desapareceu de maneira
furtiva. Ao dizer isso, vi que os olhos ainda belos de Daniele encheram-se de
lágrimas. Senti uma cortante piedade da menina, mas não sabia o que fazer, nem
mesmo o que dizer a ela. Despediu-se rápida e nervosamente, e eu ali permaneci
como se minha alma estivesse aniquilada.
Meses
depois, retornei ao seu quarto e aguardei alguns instantes, enquanto Daniele
lia em sua cama. Minutos depois apagou a luz e principiou a se masturbar sob as
cobertas. Não demorou muito para que aquele demônio surgisse vagando pela porta
e lentamente flutuasse de forma abjeta sobre a adolescente, efetuando outra
nauseante relação sexual, explorando a inconsciência da menina. Não mais pude
permanecer diante daquela visão deprimente e voltei à minha casa. Passadas
algumas semanas, encontrei outra vez Daniele na rua. Estava verdadeiramente
acabada, esquelética, como que corroída por uma peste letal. Sua beleza
murchara, secara, sua vida esvaíra-se como o vinho que escorre de uma taça
quebrada. Dias depois, fui ao velório de Daniele.
Semanas
após seu falecimento, estando meu corpo adormecido e meu espírito vagueando
pela dimensão astral (que era como eu visitava Daniele em seu quarto), tive um
encontro com um perverso homem... Possuía uma bela aparência e segurava um
cálice que julguei contivesse vinho. Estas foram algumas das palavras que o
sinistro homem me dirigiu:
—
Pensas que bebo vinho? Não. Bebo sangue, bebo a vida que o sangue
espiritualmente contém. Assim mantenho essa aparência física através dos
séculos, que não é a real, mas é com ela que me apresento imaginativamente às
mulheres, entre elas a tua querida Daniele... Certamente, vira-me na forma real
tendo relações com ela, não? Pois a menina via-me em sua mente com um aspecto
bem diferente... Ah, suguei toda a sua energia, mais do que normalmente faço,
pois ela era muito receptiva. É claro que com a maioria das mulheres, não chego
a matá-las, dreno um pouco de energia, e isso é tudo. O máximo que pode ocorrer
é elas terem alguma doença, ou serem infelizes no amor, pois não poderão amar
devidamente, se é que me entendes... Logicamente, não sou o único a realizar
tais ações, tenho colegas, masculinos e femininos. Minhas colegas femininas, é
óbvio, sugam os homens. Atuamos não só em masturbadores, mas também em relações
sexuais feitas sem nenhum sentimento, sem amor. Ah, quantos belos rostinhos nós
já secamos... mesmo que lenta, bem lentamente, quase imperceptivelmente... Mas
o que é isso? Não, não chores pela Daniele! Ah, ah, ah, ah, ah!
Ilustração: CarlosPalma
Cruchaga
Comentários
Postar um comentário