O IMPENITENTE - Conto Clássico de Terror - Aluísio de Azevedo

O IMPENITENTE Aluísio de Azevedo (1857 – 1913) Conto-vos o caso como mo contaram. Frei Álvaro era um bom homem e um mau frade. Capaz de todas as virtudes e de todos os atos de devoção, não tinha, todavia, a heroica ciência domar os impulsos de seu voluptuoso temperamento de mestiço e, a despeito dos constantes protestos que fazia para não pecar, pecava sempre. Como extremo recurso, condenara-se, nos últimos tempos, a não arredar pé do convento. À noite fechava-se na cela, procurando penitenciar-se dos passados desvarios; mas, só reprimir o irresistível desejo de recomeçá-los, era já o maior dos sacrifícios que ele podia impor à sua carne rebelde. Chorava. Chorava ardendo de remorsos por não poder levar de vencida os inimigos da sua alma envergonhada; chorava por não ter forças para fazer calar os endemoninhados hóspedes do seu corpo, que, dia e noite, lhe amotinavam o sangue. Quanto mais violentamente procurava combatê-los, tanto mais viva lhe acometia o espírito ...