ERIPEIA E O CELTA - Conto Clássico de Horror - Eximí Opfalas
ERIPEIA E O CELTA
Eximí
Opfalas
Quando
os celtas invadiram a Jônia, raptaram grande número de mulheres que, no
suntuoso Templo de Apolo, em Mileto, celebravam as tradicionais festas
Tesmofórias, dedicadas a Deméter ou Ceres Tesmóforas, deusa agrária dos Jônios.
Entre
elas foi raptada Eripeia, esposa de Xanto, o qual, inconsolável com a perda da
mãe do seu dileto filho, vendeu tudo que possuía e partiu, através da Grécia e
da Itália, em busca de Eripeia. Chegando às Gálias, conseguiu Xanto saber que
sua esposa vivia em casa de Ligúrio, homem notável entre os celtas e em cuja
morada pediu hospedagem.
Sua
mulher, ao ver Xanto, abraçou-o e beijou-o efusivamente, como quem recebe um
libertador. Isto fez com que seu marido logo procurasse Ligúrio, propondo-lhe
resgatar a esposa por mil peças de ouro, importância sobremodo considerável. O
honesto celta, porém, observou a Xanto que tal soma era excessiva para o
resgate de uma mulher, aconselhando-o a dividi-la em quatro partes, das quais
uma, apenas, se destinaria ao resgate, ficando as outras três para ele, Xanto,
sua esposa e seu filho. Xanto,
agradecendo a gentileza, pagou logo o resgate, sem que esse seu ato, porém,
fosse presenciado pela esposa, que, quando novamente a sós com ele, lhe
censurou ter proposto resgate tão elevado, que supunha não poderia pagar, pois,
se tal acontecesse, perderia a vida. Xanto explicou então a Eripeia como
obtivera aquele ouro, confessando-lhe também que, além da soma que propusera
pagar pelo resgate, seus homens traziam em suas botas outras tantas mil peças
de ouro, para o que desse e viesse, pois não contava com a generosidade que
encontrara em Ligúrio.
Eripeia
calou-se; mas, quando pôde de falar ao celta novamente, narrou-lhe o que
revelara Xanto; e, alegando não o querer nem ao filho, insinuou a Ligúrio apoderar-se
do ouro que seu marido possuía.
Indignado
ficou Ligúrio com aquela tão vil traição de Eripeia, que decerto desconhecia a
alta conta em que os celtas tinham a hospitalidade. Mas, nada deixando
transpirar dos seus intentos, na manhã seguinte, partiu ele acompanhando Xanto
e seus homens, seguido de um escudeiro seu armado de espada e conduzindo
Eripeia pelo seu próprio braço.
Chegando
ao píncaro da serra, que naquela direção limitava suas terras, Ligúrio, segundo
costume gaulês, declarou que, naquela despedida, deviam sacrificar uma vítima
em holocausto aos seus deuses. E, mandando buscá-la, ordenou a Eripeia que a
segurasse.
Mas,
quando a pesada espada de Ligúrio baixou, a cabeça decepada não foi a do
cordeiro, que Eripeia segurava, e sim a da própria mulher de Xanto...
Este,
indignado, investe contra o Celta, que, enquanto se defende, conta-lhe a
nefanda perfídia de Eripeia. E a Xanto, conformado, Ligúrio restitui o ouro que
recebera pelo resgate que não se consumara.
Fonte:
Careta, edição de 19 de outubro de 1938
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