A MISSA DAS SOMBRAS - CONTO CLÁSSICO FANTÁSTICO - Anônimo Espanhol


A MISSA DAS ALMAS
(Autor anônimo espanhol)


Era uma vez um pai e a mãe. Eram muito pobres e tinham três filhos pequenos. Apesar de tão pobres, teve o pai, certa feita, de parar de trabalhar porque adoeceu, e só restava a mãe para prover o alimento de todos.  Ela, não sabendo o que fazer, teve de ir às ruas pedir esmolas.

Então saiu.  Andou o dia inteiro de cá para lá mendigando e, ao cair da tarde, havia conseguido recolher uma peseta.

Então, foi comprar comida, porque queria preparar um cozido para os filhos, ela e seu marido. Mas faltavam ainda vinte centavos. Como não podia conseguir o que faltava, pensou:

– Para que me serve esta peseta se não posso levar comida para todos?  Pois o que vou fazer é pagar uma missa com esta peseta que consegui.

E assim tendo pensado, disse:

– E para quem mandarei rezar missa?

Após meditar sobre o assunto, disse:

– Vou encomendar ao padre uma missa pela alma mais necessitada.

Encontrado o padre, entregou-lhe a peseta e lhe disse:

– Padre, faça-me o favor de rezar uma missa pela alma mais necessitada.

E partiu então para casa e não deixava de pensar em seu marido e em seus filhos que por ela esperavam.  No caminho, cruzou com um senhor muito bem-apessoado, que lhe perguntou:

– Para onde vai, senhora?

Ela respondeu:

– Vou para casa.  Meu marido está muito doente. Somos muito pobres e temos três filhos.  Passei todo o dia pedindo esmolas, mas não ganhei o suficiente para dar de comer a todos.  Então fui ver o senhor padre para encomendar-lhe uma missa pela alma mais necessitada.

Então aquele senhor tirou um papel e nele escreveu.  Disse à mulher:

– Vá aonde indicam estes sinais e, lá chegando, peça à dona da casa um emprego.

A mulher não pensou duas vezes e se encaminhou para onde aquele senhor havia indicado para pedir o emprego.

Chegou à casa que lhe haviam indicado e bateu à porta.  Acudiu uma criada, que lhe perguntou:

– O que a senhora deseja?

Ela respondeu:

– Quero falar com a dona da casa.

A criada foi chamar a sua senhora, a esta dizendo que à porta havia uma pobre mulher que lhe queria falar.  Quando senhora chegou à porta, disse-lhe a mulher:

– Encontrei na rua um senhor que falou comigo e me disse que a senhora me daria um emprego em sua casa.

E disse-lhe a senhora:

– E quem era esse senhor?

Então a pobre mulher, que estava à porta, olhou para dentro da casa e viu que na sala havia um retrato do homem que ali lhe havia enviado.  Disse:

– Foi este homem, que está no retrato, quem me enviou aqui.

E a senhora disse:

– Este é o retrato de meu filho, que morreu há quatro anos.

– Pois esse homem é a pessoa que me mandou aqui – respondeu a mulher com absoluta certeza.

Então a senhora lhe perguntou:

– Como a senhora o encontrou?

E respondeu a pobre mulher:

– Veja a senhora que meu marido e eu somos muito pobres e temos três filhos para criar.  E como agora o meu marido está muito doente, e não temos mais o que comer, eu saí nesta manhã para pedir esmola e juntei somente uma peseta. Como com essa quantia eu não tinha o suficiente para comprar um cozido para todos, encomendei ao vigário, com o dinheiro, uma missa pela alma mais necessitada. Depois, voltei à rua e me encontrei com o seu filho.  Contei a ele a mesma história que acabo de contar à senhora. Então ele escreveu neste papel e me disse que aqui viesse.

A senhora disse à mulher que entrasse e lhe deu emprego.  Além disso, deu-lhe pão para que levasse aos seus filhos e solicitou que voltasse no dia seguinte e nos demais para servir à casa.  E, cinco dias depois, a senhora teve uma revelação:  o filho lhe apareceu e disse:

– Mãe, não chore mais por mim e não volte a rezar por minha alma, porque já estou em glória e na presença de Deus.

E assim fora porque, com aquela missa, havia ele acabado de pagar os seus pecados no Purgatório e subido ao Céu.


Tradução e adaptação: Paulo Soriano.


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