O SUPLÍCIO DE ROBESPIERRE - Narrativa Verídica de Horror - François-Joseph-Michel Noël e Joseph Planche
O SUPLÍCIO DE ROBESPIERRE
François-Joseph-Michel
Noël (1756 – 1841) e Joseph Planche
(1762
– 1853)
Robespierre,
após receber o tiro de pistola que lhe esmigalhou a face, caiu banhado de sangue.
Levantaram-no e o puseram numa poltrona de couro vermelho. Porque teve maxilar
deslocado, foi necessário ajustá-lo à mandíbula superior com o emprego de uma
faixa, que lhe sustinha o queixo, e cujas extremidades foram atadas sobre a
sua cabeça.
Foi
neste estado que, às seis horas da manhã, o conduziram ao Comitê de Segurança
Geral, onde o deitaram sobre uma mesa. Tinha o semblante pálido e a cabeça
rachada. Vertia sangue pelos olhos, narinas e boca. Alvo, por muitas horas, de
insultos e reproches pelos circunstantes, ele parecia suportar, com paciência,
tais ultrajes. Queixa alguma escapou de sua boca. E não respondeu a qualquer
pergunta feita por seus confrades.
Ele
foi, então, levado ao Tribunal Revolucionário, acompanhado de seus cúmplices,
para ser identificado. Iam com ele Couthon, Saint-Just, Robespierre Jeune e
Dumas, presidente do Tribunal Revolucionário; Vivier, presidente dos Jacobinos;
Henriot, comandante da Guarda Nacional; seu ajudante Valletta; Fleuriot-Lescot,
prefeito de Paris; Payan, agente da Comuna; Gobeau, promotor público perante o Tribunal
Criminal do Departamento e onze membros do Conselho-Geral da Comuna de Paris, o
que fora completamente ilegal. Eis um efeito notável das vicissitudes
revolucionárias: contemplar todos esses homens enviados ao cadafalso por um
tribunal formado pelos próprios amigos.
Percebeu-se
que Robespierre levava o mesmo traje que usara na festa do Ser Supremo. Suas
feições estavam horrivelmente desfiguradas. Quer porque constrito pelas dores
dos ferimentos, quer porque tinha ele a alma dilacerada pelo remorso, os seus
olhos permaneciam completamente fechados.
Chegando
no meio da Rua Real, ele foi tirado dessa espécie de sonho por uma mulher que
ali o esperava. Era uma mulher de meia-idade, adequadamente trajada. Quando viu
a carroça chegar com Robespierre, abriu caminho, agarrou-se com uma mão à barra
da carroça, enquanto, com a outra, ameaçava-o, gritando:
—
Monstro! Monstro vomitado pelo inferno, teu suplício me enche de alegria!
Ouvindo
tais palavras, Robespierre abriu os olhos e ergueu os ombros.
—
Monstro abominável — continuou a mulher —, somente de uma coisa me arrependo,
porque tu não tens mil vidas. Se as tivesse, eu desfrutaria do prazer de ver-te
pagar por teus crimes uma vida após a outra!
Este
novo insulto pareceu incomodar Robespierre; mas ele não moveu as pálpebras.
Quando
o deixou, já perto do cadafalso, disse-lhe a mulher:
—
Vai, celerado, desce ao túmulo com todas as maldições, com as eternas maldições
de todas as esposas, de todas as mães!
Presume-se
que Robespierre havia privado essa mulher de marido ou filho.
Antes
de receber a morte, padeceu Robespierre de um cruel sofrimento.
Depois
de tirar-lhe o casaco, que lhe estava cruzado sobre os ombros, o carrasco
arrancou bruscamente o aparato que o médico havia colocado em seu ferimento.
Porque o maxilar inferior deslocara-se do superior, a cabeça desse miserável
não oferecia à visão mais que um objeto monstruoso. E, depois do golpe fatal,
quando o carrasco a exibiu para todo o público, aquela cabeça tornou-se o mais
horrível espetáculo que se pode imaginar.
Versão em português de
Paulo Soriano.
Fonte: Ephémérides politiques, littéraires et
religieuses, Paris, 1812.
Cruel.
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