ASSALTANTES ONÍRICOS - Conto Fantástico - Raphael Reys



ASSALTANTES ONÍRICOS
Raphael Reys
(Montes Claros/BR)
(Conto finalista do I Concurso Literário “Contos Grotescos” – Prêmio Edgar Allan Pöe)

Vivi por vinte e cinco anos viajando com mais freqüência pelo Norte, Meio Norte, Nordeste, Minas Gerais onde ouvi, vi e acompanhei fatos de paranormalidade e manifestação de sabedoria nativa ou intuitiva.

Os fatos citados nessa crônica foram obtidos do depoimento de inúmeros e distintos moradores ou viajantes ao longo do trecho no qual ocorreram as vias- de- fato.

Acontecem coisas nesse louco mundo de múltiplas manifestações que não dá para entender conforme a razão habitual. Nada melhor do que as estradas da vida para nos confrontar com ocorrências insólitas!

Os nossos carmas são programações visando a nos propiciar experiências retificadoras entre muitas. A métrica, entretanto, pode e deve ser alterada para um melhor e mais salutar resultado desde que a ela nos intuímos.


Enquanto dormimos, a alma alça voo e toma rumos inesperados. Separa-se do corpo e, sem o lastro que o mantém no mundo das manifestações, volita pelo mundo espiritual imediato e costuma ler no livro do destino as nossas retificações cármicas a serem cumpridas como metas da nossa evolução.

Ribamar era representante comercial, com residência em Fortaleza, Capital do Ceará, dormindo sob a amplidão do céu de Iracema e sonhando, um sonho recorrente, que repetia com a lua crescente. A sua área de atuação comercial se estendia até a ilha de São Luiz (a ilha do amor) e Capital do Maranhão, não sem antes passar por Teresina, entroncamento de acesso ao Norte, via Timom-MA.

Já há vinte e cinco anos percorria as mesmas trilhas comerciais. Nas suas idas e vindas, passava pelo entroncamento de Codó, no interior maranhense, a conhecida cidade representante espiritual de Ebó, a pátria do vodu, na África - Mãe.

Por lá ele não parava, pois sabia ser lugar habitual de morada de rameiras de estrada, assaltantes e bandidos de todas as espécies, inclusive quadrilhas em ações marginais diuturna nas estradas. A impunidade dominava os poderes vigentes e as autoridades eram sempre corrompidas. Uma terra sem lei!

Há dez anos, e sempre quando a lua era crescente, lhe ocorria o mesmo sonho, ou seria premonição? Busco situar o terror do seu pesadelo na atmosfera daquele entroncamento fatídico. O enredo do sonho recorrente consistia em quatro mascarados interceptarem o seu veículo no quilômetro 17, exatamente entroncamento daquela cidade com a BR o assaltava e o deixava ferido de morte. Tudo muito ao vivo e em cores.

O pesadelo se repetia sempre com a mesma métrica, o tema do medo inenarrável surgindo do sonho. Assustado com as possíveis premonições passou a usar no estado onírico a vontade e a sugestão mental buscando alterar o enredo.

No quadro criado e desenvolvido pela força de sua mente, ele descia do carro e em legítima defesa disparava sequencialmente nos quatro meliantes, os liquidando. Na realidade passou a treinar intensivamente no clube de tiro em Fortaleza, especializando-se em todas as modalidades de alvo.

Por centenas de vezes o seu Deimon fazia repetir a premonição, os assaltantes voltavam em sonho e se anexavam ao seu destino cármico e ele usava a vontade, alterando o desfecho fatídico. Estes fatos eram do conhecimento de todos os viajantes e representantes dos três estados, onde Ribamar atuava. O Ceará, o Piauí e o Maranhão.

Nas rodinhas de bebida nos finais de tarde e fins de semana, os colegas de profissão, riam do assunto, outros comentavam vários fatos de natureza premonitória dos quais tiveram conhecimento ou mesmo vivência. Todos no trecho sabiam dos sonhos de Ribamar!

O destino foi contundente e cármico! Como um sedento de água, os assaltantes vieram no real e o assalto tão esperado aconteceu em 1982, seguindo o enredo onírico e preconizado. Ribamar era uma vítima potencial de assaltantes de estrada, pois transportava recebimentos de clientes em espécie e em cheques.

Reagindo, conforme a projeção feita em sonho, desceu do veículo e disparou em sequência, já previamente pensada e repassada no estado onírico e esquematizada repetidamente em sua mente, eliminando os quatro bandidos. Simetricamente fez os disparos acertando os meliantes na cabeça. Tiro após tiro. Um buraco em cada testa.

O exercício da vontade e as premonições alteraram a roda do seu destino! O anjo girou a roda do destino a seu favor!

Foi absolvido em julgamento, por legítima defesa. Ademais, os fatos premonitórios eram do conhecimento popular, a ação criminosa era constante no local e os bandidos mortos tinham extensa ficha criminal.


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