ELIZABETH BATHORY, A CONDESSA SANGUINÁRIA - Narrativa Verídica - Autor Anônimo do séc. XIX



ELIZABETH BATHORY, A CONDESSA SANGUINÁRIA
Autor anônimo do séc. XIX

Escritores e cronistas de todas as épocas têm mencionado diferentes tipos de homens-monstros, cada qual mais horrendo, exemplos lamentáveis à queda do ser humano na bestialidade, vizinha da loucura e fruto de taras misteriosas e poderosas. A lista é imensa e entre esses espíritos deformados citaremos o "Vampiro de Dusseldorf", o "Jack, o Estripador", o "Barba Azul" francês, e, mais recentemente, o "Vampiro" inglês, cujos crimes horrorizaram o mundo inteiro.

Entretanto, não só entre os homens surgem degenerados. Há também as mulheres-monstros e entre elas citamos Elizabeth Bathory, cuja história passamos a contar. Elizabeth Bathory veio ao mundo em 1560 e pertenceu a uma das famílias mais poderosas do Oriente europeu.

Seus pais lhe deram o nome de Cutkeled; porém, tendo os seus antepassados, no século XIII, emigrado da Suécia para a Hungria e adotado o sobrenome de Bathory (derivado de Batur, povo que lhes havia dado a coroa húngara), foi este último nome que Elizabeth adotou. Os Bathory foram muito úteis ao monarca húngaro, tanto na paz quanto na guerra, e, no correr de várias gerações, governaram a seu bel-prazer a província da Transilvânia.

Entre os Bathory, houve generais, bispos e magistrados, alcançando essa família o máximo de sua glória com Estêvão, nascido em 1533 e morto em 1586, sendo príncipe da Transilvânia e rei da Polônia.

Porém, entre os Bathory não somente houve eminentes figuras por seu valor e inteligência, com também os degenerados; assim, por exemplo, uma certa condessa Bathory, que era bissexual e matou o próprio marido, Estêvão — um tio do príncipe e rei do mesmo nome e que, em toda a sua vida, se mostrou excêntrico, fazendo questão de viajar em trenó fosse no inverno ou no verão. Também os pais de Elizabeth foram degenerados e sanguinários. De fato, George e Ana Bathory, pais do monstro que hoje focalizamos, praticaram os maiores crimes contra a piedade e a decência.

Elizabeth casa com um membro de outra família de degenerados. — Sendo ainda uma criança, Elizabeth casou-se com um jovem viúvo, Frank Nadasky, descendente de nobilíssima família e cujos domínios se estendiam por dezessete cidades, pois os fatos que narramos ocorreram em plena Idade Média.

Thomas, pai de Frank, era governador real da Hungria, o que fazia dele o homem mais poderoso do reino, depois do monarca. O casamento foi realizado no dia 8 de maio de 1575, tendo sido um grande evento, pois o rei Maximiliano enviou um de seus mais influentes generais para que o representasse na cerimônia. No curso de dez anos, o casal teve quatro filhos. Sendo Frank um verdadeiro gigante, toda a sua vida foi dedicada à guerra, tendo morrido em 1.604, à idade de 49 anos, quando combatia contra os turcos.

Morto seu esposo, a condessa de Csejthe viveu praticamente em reclusão, em virtude de ter um caráter extravagante e não se sentir estimada pelos personagens que se moviam em seu redor. Tinha a monomania de trocar várias vezes por dia de vestido e de penteado, embora — como já foi dito — vivendo quase reclusa e raramente saindo do castelo residencial.

Um dia em que uma das aias lhe fazia o centésimo penteado, sofreu repentina hemorragia nasal e com o seu sangue manchou o rosto da condessa. Esta pediu um lenço para limpar e com ele esfregou o rosto. Quando se mirou num espelho, para verificar se ainda estava manchado, descobriu que a sua pele aparecia lisa e suave com um alabastro. Foi então que nasceu em seu espírito enfermo a ideia louca de banhar-se frequentemente em sangue humano, a fim de conservar "uma pele fina e aveludada, como a de uma a criança recém-nascida", segundo as suas próprias palavras.

Seiscentas jovens assassinadas. — Mandou fazer uma "imagem" de ferro, instrumento de martírio, que esteve em voga na Idade Média e que consistia em um molde do corpo humano,  tendo´, porém, em sua parte interior seis garfos, colocados estrategicamente, isto é: quando a jovem condenada era ali colocada e se fechava esse "molde", as pontas aceradas feriam mortalmente a vítima, deixando jorrar o sangue aos borbotões por um canal que estava ligado a uma tina, onde Elizabeth tomava os seus banhos de beleza.

Os principais cúmplices da condessa foram Daroula, que começou a trabalhar no castelo de Csejthe em 1594, quando a condessa tinha 34 anos, e o jovem Ujacri, aliás Ficsko, que recebeu instruções de Elizabeth no sentido de descobrir e levar-lhe mocinhas, de preferência órfãs, a fim de evitar ulteriores reclamações.

À medida que o tempo transcorria, foram cúmplices dos assassinatos ordenados pela condessa as serviçais Ilona Joo, enfermeira e viúva de Steve Nagy; Catharina Beniksky, Joana Boda, lavadeira, e, a partir de 1606, a viúva Dorotheia Szentes.

A princípio, era muito fácil encontrar mocinhas que quisessem ir trabalhar no castelo; porém, à medida que o tempo transcorria, foi divulgada a notícia de que a condessa as matava para banhar-se em seu sangue. Daí por diante, para conseguir essas vítimas, era preciso apelar para o rapto.

Uma vez no castelo, essas mocinhas eram incumbidas de serviços domésticos, enquanto não chegava o seu turno de ser sacrificadas, o que era feito sob o pretexto de que haviam comido uma fruta ou roubado uma moeda. Não devemos esquecer que, na Idade Média, os barões eram senhores da forca e do machado, explicando isto o fato da condessa de Csejthe poder assassinar impunemente 600 camponesas, antes de ser presa e condenada.

Os primeiros a chamar a atenção das autoridades sobre o que ocorria no castelo de Csejthe foram os sacerdotes, que, com o risco de sua vida, falaram publicamente dos crimes da condessa; porém sua denúncia, por muitos anos, não foi tomada em consideração, em virtude de ser Elizabeth senhora e dona absoluta da cidade de Csejthe e gozar do privilégio de dispor, ao seu arbítrio, da vida de seus súditos.

Uma vez processada., uma das testemunhas de acusação, João Ujvary, declarou que a condessa, pessoalmente, matara 36 jovens, todas órfãs e solteiras e que, quando menos uma vez, assassinara uma menina, utilizando o seu sangue para tomar um banho de beleza; depois, com a carne, mandou fazer uns filés, com os quais, à noite, obsequiou alguns jovens senhores que foram visitar o castelo. E, segundo o reverendo João Ponekinu, que foi outra testemunha da acusação, a condessa ria perdidamente, apertando as pernas da imagem de ferro e, em extremo sádica, gestava de, à hora justa do martírio, ir queimar os pés das infelizes criaturas com papel embreado e arrancar-lhes as carnes com tenazes, mastigando-as gulosamente.

Quando a condessa enfermava, os assassinatos das jovens servidoras eram comentados em sua própria alcova, e, quando viajava, levava em sua companhia várias jovens, que jamais voltavam à cidade de Csejthe, pois que a condessa as matava para banhar-se com o seu sangue. A condessa tinha um castelo em Viena e, em certa ocasião, tendo que comparecer a um baile, mandou matar seis mocinhas, que gritaram muito, provocando verdadeiro alvoroço na vizinhança.

Enteado que desconfia da madrasta. — Um dia, de improviso, chegou ao castelo de Csjthe o conde Nicolau Zrynvi, enteado e inimigo da condessa. Nesse justo instante, Elizabeth sacrificava ficava seis moças e, para evitar suspeitas do conde, mandou arrojar os cadáveres debaixo de uma cama, fechando a porta com chave dupla.

Ao fim de poucos dias, daquele aposento exalava um fétido insuportável; a condessa ordenou que, à noite, os cadáveres fossem retirados e sepultados no curral do castelo, de onde, horas depois, um cão pertencente ao conde extraiu um deles!

O conde Zrynyi logo abandonou o castelo e desenvolveu todos os esforços para que a condessa fosse castigada. Tudo, porém, sem êxito, em virtude de os barões da Idade Média se mostrarem sempre muito zelosos de seu prestígio, não desejando cercar-se de escândalos.

Porém, os criados continuaram comentando, muitas moças conseguiram fugir a tempo e o rei Matias ordenou a prisão e encarceramento da condessa tanto para castigá-la quanto para apoderar-se de sua enorme fortuna.

Os barões se opuseram; porém, finalmente, o conde George Thurzo, governador real da Hungria e único com jurisdição sobre ela, foi ao castelo com o objetivo de prender a condessa. Elizabeth, sabendo que o governador estava prestes a chegar, tentou valer-se de um encantamento, o qual lhe fora vendido por uma feiticeira "para evitar perseguições da justiça". Tratava-se de um "encantamento" com a ajuda de 93 gatos pretos, que, como feras, matariam os seus perseguidores. Porém estava sem sorte, pois não pôde encontrar a "receita" escrita num pergaminho e acabou mesmo sendo presa.

A prisão foi realizada em 13 de dezembro de 1610 e, ato contínuo, foi julgada por um júri formado por quatorze notáveis da vila de Csejthe.

Terminado o julgamento, João Ujvary foi sentenciado a ser decapitado pelo machado do verdugo e, uma vez isso feito, corpo e cabeça arrojados numa fogueira. Ilena Joo e Dorotheia Szentes foram condenadas à morte, porém lenta. O verdugo cortou-lhes, um a um, os dedos das mãos, que ia lançando à fogueira e, finalmente, foram ambas levadas para a fogueira, onde pereceram "a fogo lento".

Catharina Beniksky, que revelara piedade pelas mulheres assassinadas, foi condenada a passar no cárcere o resto de sua existência.

Quanto à condessa Csejthe, a fim de evitar o confisco dos seus bens pelo rei e a mancha que cairia sobre toda a sua família, foi declarada louca e encarcerada num local onde, situado em seu próprio castelo, através de estreita fenda, recebia alimentos e roupa limpa.

Não se lhe permitia falar com quem quer que fosse, perdeu o juízo ao fim de poucos meses de prisão. Ao final, morreu quatro anos mais tarde, sem auxílios médicos nem espirituais A mulher-monstro de Csejthe morreu repentinamente no dia 21 de agosto de 1614, e nos quatro pontos cordiais de seu castelo foram levantados torreões "para que recordassem à posteridade que nele tinham sido cometidos inúmeros crimes”.



 Fonte: “Eu Sei Tudo”, abril de 1950.




Comentários

  1. Quer dizer que uma gota de sangue que caiu no rosto da condessa virou uma avalanche? Mas será que ela não se cansa nunca de tomar banho com sangue coagulado. Sinto muito mas você errou o número de mocinhas. No julgamento, a maioria das testemunhas disse que não viu, mas ouviu (povo fofoqueiro) que foram de 250, 300 a 650 mocinhas. As 650 mocinhas foi a Suzana que ouviu. (Isso é fato e sim a Suzana existiu). Não lembro agora mas acho que foi um historiador que disse que foram 800. Talvez o ano que vem sejam 1000. Aliás, há novas pesquisas (muito interessantes) e visões diferentes sobre a lenda ou conto de terror rolando por aí.

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    1. Obrigado pelo comentário. Se houve erro, deve ser imputado ao autor (anônimo do séc. XX).

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