HISTÓRIAS FANTASMAGÓRICAS - Narrativas Clássicas de Terror - Augustin Calmet
HISTÓRIAS
FANTASMAGÓRICAS
Augustin
Calmet
(1672
– 1757)
São
Germano de Auxerre, que certo dia viajava por sua diocese, foi obrigado a
passar a noite, em companhia de seus clérigos, em uma casa abandonada há muito
tempo, em razão de espíritos que a assombravam.
Um
ajudante, que lia para ele durante a noite, viu, de repente, um espectro, o que
o alarmou a princípio. Mas, tendo despertado o santo bispo, este ordenou ao
espectro, em nome de Jesus Cristo, que lhe declarasse quem era e o que queria.
Disse-lhe
o fantasma que ele e seu comparsa haviam sido culpados de vários
crimes; que, morrendo e sendo sepultados naquela casa, perturbavam os que
ali se alojavam. E assim o fariam até que lhes fossem concedidos os rituais
funerários.
São
Germano ordenou ao fantasma que apontasse onde os corpos estavam enterrados, e
o espectro o conduziu até o lugar.
No
dia seguinte, o santo reuniu as pessoas da vizinhança. Estas procuraram, entre
as ruínas do edifício, onde grassavam os espinheiros, e encontraram os ossos de
dois homens, carregados de correntes, no local em que foram juntos
enterrados. Fizeram-se orações por eles e os espectros não mais apareceram.
*
Antonio
Torquemada[1], em sua obra intitulada Flores
Curiosas , impressa em Salamanca em 1570, diz que, pouco antes de seu
tempo, um jovem chamado Vasquez de Ayola foi a Bolonha, com dois de seus
companheiros, estudar Direito, e não tendo eles encontrado um alojamento na
cidade como desejavam, instalaram-se em uma grande e bela casa, porém
abandonada, porque era assombrada por um espectro que assustava todos aqueles
que a habitavam. Eles riram de tais histórias e lá se alojaram.
Ao
cabo de um mês, quando Ayola estava sentado sozinho em seu quarto, e seus
companheiros dormindo tranquilamente em suas camas, ele ouviu, à distância, o
som de várias correntes que se arrastavam pelo chão, e que avançava em sua
direção, a partir da grande escadaria. Ele se recomendou a Deus, fez o sinal da
cruz, pegou um escudo e uma espada e, com a vela na mão, viu que a porta se
abria por arte de um fantasma terrível, que não passava de ossos, malgrado
carregado de correntes.
Ayola
o conjurou e perguntou o que ele desejava. O fantasma fez um sinal para que o
seguisse, e ele obedeceu. Mas quando desceu as escadas, o lume se apagou. Ele
voltou a acendê-lo e, depois, seguiu o espírito, que o levou ao longo de um
pátio onde havia um poço. Como Ayola temia que o espectro o precipitasse
no poço, estacou. O espectro acenou para que ele continuasse a segui-lo.
Entraram num jardim, onde o fantasma desapareceu. Ayola arrancou alguns
punhados de grama, marcando o lugar, e, voltando para casa, contou aos
companheiros o que havia acontecido.
De
manhã, Ayola notificou o fato às autoridades de Bolonha, que vieram para
examinar o local e escavar no sítio assinalado. Encontraram ali um
corpo descarnado, embora carregado de correntes. Indagaram quem poderia
ser, mas nada foi descoberto. Fizeram-se para o morto os funerais adequados e,
a partir de então, a casa nunca mais foi perturbada.
Torquemada
afirma que, na época, ainda viviam na Bolonha e na Espanha alguns dos que
haviam sido testemunhas deste fato; e que, em seu retorno ao seu país,
Ayola foi investido em um alto cargo, e que seu filho, antes da redação de tal
narrativa, era presidente de uma boa cidade do reino da Espanha.
Versão em português:
Paulo Soriano.
Narrativa constante
do Traité sur les apparitions des esprits et sur les vampires ou les
revenants de Hongrie, de Moravie, etc. (Tratado sobre as aparições dos
espíritos e sobre os vampiros ou redivivos da Hungria, da Morávia etc.), de
1751.
[1] Antonio
de Torquemada (1507 – 1569), escritor leonês.
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