O GATO PRETO Edgar Allan Pöe (1809 - 1849) Tradução: S. de M. (Séc. XIX) Não espero nem peço que acreditem na extraordinária e, contudo, vulgar história que lhe vou narrar. Na realidade, seria um louco se tal esperasse, num caso em que os meus sentidos repelem o seu próprio testemunho. E, todavia, eu não sou um doido —e não estou sonhando, com certeza. Mas, como devo morrer amanhã, quero hoje aliviar a minha alma. O meu fim imediato é apresentar ao mundo —claramente, sucintamente e sem comentários —uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas consequências, esses acontecimentos terrificaram-me, torturaram-me, aniquilaram-me. Entretanto, não tentarei aclará-los. Considero-os horríveis, ainda que a muitas pessoas possam parecer menos terríveis do que estranhos. É possível que mais tarde haja uma inteligência mais serena que reduza o meu fantasma à situação comezinha de simples lugar comum —uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitáv...
O RETRATO OVAL Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) O castelo onde o meu criado achara por bem penetrar à força, em vez de me condenar, deploravelmente ferido como eu estava, a passar uma noite ao relento, era uma dessas construções, misto de grandeza e de melancolia, que por longo tempo ergueram a sua fronte orgulhosa no meio dos Apeninos, tanto na realidade como na imaginação da Sra. Radcliffe. Segundo toda a aparência, tinha sido temporária e recentemente abandonado. Instalamo-nos numa das dependências menos amplas e menos suntuosamente mobiladas, situada numa torre afastada do edifício. A sua decoração era rica, mas antiquada e em ruínas. As paredes, ornamentadas com numerosos troféus heráldicos de todas as formas, eram cobertas de tapeçarias, assim como de uma coleção prodigiosa de pinturas modernas, de grande estilo, em ricas molduras de ouro ao gosto arabesco. Tomei profundo interesse — talvez fosse o meu delírio a causa disso — por esses quadros, suspensos não só ...
A INESPERADA Catulle Mendes (1841 – 1909) Tradução de autor anônimo do séc. XIX O leitor é da opinião de Hamlet? Acredita que se passam debaixo do céu coisas que a filosofia não poderia imaginar? Acha que ó verdade que, em Londres, Éliphas Lévi 1 evocou Apolônio de Tiana 2 , o suave profeta mago, e que o ilustre sábio Wiliam Chrookes 3 tomou chá, durante muitos meses, algumas vezes por semana, com o espírito materializado de uma jovem vestida com uma camisa de linho e toucado com um turbante de plumas? Não se ponha a rir. Um espectro, mesmo por baixo do um turbante, faria gelar de medo a medula dos ossos do leitor e, talvez, o cômico agravasse o horror. Eu, pela minha parte, não tinha vontade de rir-me, ontem à noite, ao ler no New Yor k Herald , número de 19 de março, a notícia de um processo criminal que, sem dúvida, terminará pela condenação do acusado à pena última. É uma sinistra aventura. No momento de traduzir-lhe a história reconstruída pelos dizeres do criado qu...
A MÃO DO MACACO W. W. Jacobs (1863 - 1943) Tradução de Paulo Soriano Romancista e contista inglês, W. W. Jacobs (1863 – 1943), malgrado tenha se dedicado precipuamente ao humor, é conhecido sobretudo pela obra “A Mão do Macaco”. Este conto — uma das mais famosas narrativas de terror já escrita — foi publicado originariamente na coletânea “A Dama da Barca”, de 1892, mas continua a atrair admiradores nos dias atuais, dentre eles o célebre romancista norte-americano Stephen King. Na breve narrativa, uma mão mumificada de macaco constitui-se num amuleto que tem o poder de conceder, a quem a possui, três desejos. Mas, por interferir na ordem natural dos acontecimentos, os desejos são satisfeitos a um alto — e terrível — preço. Lá fora, a noite estava fria e úmida , mas, na pequena sala de Laburnam Villa, os postigos estavam cerrados e o fogo ardia intensamente. Pai e filho jogavam xadrez. O primeiro tinha ideias próprias sobre o jogo ...
Cruel
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