UMA DESCIDA NO MAELSTRÖM Edgar Allan Poe (1809 – 1849) Tradução de Silveira de Souza Os caminhos de Deus na Natureza, assim como na ordem da Providência, não são os nossos caminhos; nem são os modelos que estruturamos de modo algum comensuráveis com a imensidão, profundidade e inescrutabilidade de Suas obras, que têm em si um fundo maior que o poço de Demócrito. Joseph Glanville Havíamos atingido agora o cume do rochedo mais elevado. Por alguns minutos o velho demonstrou estar cansado demais para falar. “Não faz muito tempo”, disse por fim, “eu podia ter guiado o senhor por este caminho tão bem quanto o mais novo de meus filhos; mas, cerca de três anos atrás, aconteceu comigo um fato como nunca ocorreu antes a nenhum ser mortal – pelo menos a alguém que tenha sobrevivido para contá-lo – e as seis horas de implacável terror que enfrentei na ocasião me abalaram o corpo e o espírito. O senhor deve imaginar que eu seja... muito velho – mas não sou. Meno
O GATO PRETO Edgar Allan Pöe (1809 - 1849) Tradução: S. de M. (Séc. XIX) Não espero nem peço que acreditem na extraordinária e, contudo, vulgar história que lhe vou narrar. Na realidade, seria um louco se tal esperasse, num caso em que os meus sentidos repelem o seu próprio testemunho. E, todavia, eu não sou um doido —e não estou sonhando, com certeza. Mas, como devo morrer amanhã, quero hoje aliviar a minha alma. O meu fim imediato é apresentar ao mundo —claramente, sucintamente e sem comentários —uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas consequências, esses acontecimentos terrificaram-me, torturaram-me, aniquilaram-me. Entretanto, não tentarei aclará-los. Considero-os horríveis, ainda que a muitas pessoas possam parecer menos terríveis do que estranhos. É possível que mais tarde haja uma inteligência mais serena que reduza o meu fantasma à situação comezinha de simples lugar comum —uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável q
VAMPÍRICA Dorothy Dunn (Séc. XX) Tradução de autor desconhecido do séc. XX Charles Endicott, um dos homens mais ricos dos Estados Unidos, estava à morte, naquela hora. Tinha um pedacinho de esparadrapo na ponta do nariz e um arranhão no lóbulo da orelha direita. Mas, eu bem sabia, esses ferimentos eram superficiais; estava agonizando de aflição e, num dia ou dois, morreria de febre tropical, exatamente como seu filho de dezoito anos, duas semanas antes. Deitado entre os quentes e pesados lençóis do hotel de Monterrey, meu amigo não podia sossegar. Não fosse eu médico, diplomado pela John Hopkins, e ainda assim sentiria que sua agitação naquele momento era apenas mental. — Um pouco d’água, Paul. Minha garganta… Despejei um pouco do líquido morno no copo sabre a mesinha de cabeceira. Beberia, depois passaria a língua pelos lábios secos, como se nada pudesse aplacar-lhe a sede. Era natural. Estávamos no mês de agosto, e nem o gelo parece frio em Monterrey, em pleno meio-dia; e s
AR FRIO H. P. Lovecraft (1890 – 1937) Tradução de autor anônimo do séc. XX Já alguém me perguntou por que receio as correntes de ar. Estremeço mais que qualquer outro ao entrar em aposentos frios e me mostro conturbado, especialmente quando o arrefecer da noite vem substituir o calor de um suave dia outonal. Alguém já disse que reajo ao frio como muitos outros o fazem ao mau cheiro, e não me ocuparei em discutir essa afirmativa. O que vou fazer é simplesmente relatar a horrível condição em que me achei, deixando que o leitor julgue, por si mesmo, se a narrativa revela ou não a razão de minha peculiaridade. É engano acreditar-se que o horror se associa forçosamente à escuridão, ao silêncio e ao ermo. Experimento-o, em toda a sua desvairante plenitude, sob a intensa luz mediterrânea, no coração burburinhante da metrópole, e bem no aconchego de modesta casa de cômodos, tendo ao lado a prosaica dona da pensão e dois robustos operários mecânicos. Na primavera de 1923, arranjara eu
Cruel
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