O GATO PRETO Edgar Allan Pöe (1809 - 1849) Tradução: S. de M. (Séc. XIX) Não espero nem peço que acreditem na extraordinária e, contudo, vulgar história que lhe vou narrar. Na realidade, seria um louco se tal esperasse, num caso em que os meus sentidos repelem o seu próprio testemunho. E, todavia, eu não sou um doido —e não estou sonhando, com certeza. Mas, como devo morrer amanhã, quero hoje aliviar a minha alma. O meu fim imediato é apresentar ao mundo —claramente, sucintamente e sem comentários —uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas consequências, esses acontecimentos terrificaram-me, torturaram-me, aniquilaram-me. Entretanto, não tentarei aclará-los. Considero-os horríveis, ainda que a muitas pessoas possam parecer menos terríveis do que estranhos. É possível que mais tarde haja uma inteligência mais serena que reduza o meu fantasma à situação comezinha de simples lugar comum —uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitáv...
O RETRATO OVAL Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) O castelo onde o meu criado achara por bem penetrar à força, em vez de me condenar, deploravelmente ferido como eu estava, a passar uma noite ao relento, era uma dessas construções, misto de grandeza e de melancolia, que por longo tempo ergueram a sua fronte orgulhosa no meio dos Apeninos, tanto na realidade como na imaginação da Sra. Radcliffe. Segundo toda a aparência, tinha sido temporária e recentemente abandonado. Instalamo-nos numa das dependências menos amplas e menos suntuosamente mobiladas, situada numa torre afastada do edifício. A sua decoração era rica, mas antiquada e em ruínas. As paredes, ornamentadas com numerosos troféus heráldicos de todas as formas, eram cobertas de tapeçarias, assim como de uma coleção prodigiosa de pinturas modernas, de grande estilo, em ricas molduras de ouro ao gosto arabesco. Tomei profundo interesse — talvez fosse o meu delírio a causa disso — por esses quadros, suspensos não só ...
A MÃO DO DIABO Jean-Baptiste Alphonse Karr (1808 – 1890) Tradução de autor desconhecido do séc. XX Era uma noite pesada e cálida do mês de julho. O céu estava coberto de nuvens pardacentas tão baixas, tão baixas que, ao acercar-se lentamente, pareciam tocar a copa das árvores, cujas folhas moviam-se sem que corresse o menor sopro de ar. De vez em quando, brilhava um relâmpago longínquo, seguido do ruído surdo do trovão. Submetidos involuntariamente a esse respeito e a esse ar de expectativa que a tempestade, próxima a estalar, empresta a toda a natureza, três homens, encerrados num quarto, conversavam em voz baixa. Nas convulsões da natureza, o homem procura tornar-se pequeno e despercebido como o menino que, fugindo da cólera do mestre, quer ocultar-se debaixo de um banco. — Meus senhores — disse um dos três, cujas feições fatigadas e voz débil pareciam indicar uma profunda pena e prolongadas vigílias —, agora vós sois minha última esperança. Apesar de tudo o que os...
A MÃO DO MACACO W. W. Jacobs (1863 - 1943) Tradução de Paulo Soriano Romancista e contista inglês, W. W. Jacobs (1863 – 1943), malgrado tenha se dedicado precipuamente ao humor, é conhecido sobretudo pela obra “A Mão do Macaco”. Este conto — uma das mais famosas narrativas de terror já escrita — foi publicado originariamente na coletânea “A Dama da Barca”, de 1892, mas continua a atrair admiradores nos dias atuais, dentre eles o célebre romancista norte-americano Stephen King. Na breve narrativa, uma mão mumificada de macaco constitui-se num amuleto que tem o poder de conceder, a quem a possui, três desejos. Mas, por interferir na ordem natural dos acontecimentos, os desejos são satisfeitos a um alto — e terrível — preço. Lá fora, a noite estava fria e úmida , mas, na pequena sala de Laburnam Villa, os postigos estavam cerrados e o fogo ardia intensamente. Pai e filho jogavam xadrez. O primeiro tinha ideias próprias sobre o jogo ...
Cruel
ResponderExcluir