A MÁSCARA DA MORTE ESCARLATE Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) Tradução de José Jaeger Havia muito tempo que a “Morte Escarlate” devastava todo o país. Jamais uma peste fora tão letal e tão terrível. O sangue era a sua encarnação e o seu sinete: o vermelho e o horror do sangue. Começava com dores agudas, com um desvanecimento súbito, e logo os poros se punham a sangrar abundantemente. Sobrevinha, então, a decomposição. Manchas escarlates no corpo e, notadamente, no rosto da vítima, segregavam-na da humanidade e a afastavam de todo socorro e de toda compaixão. O contágio, o progresso e o fim da enfermidade consumiam apenas meia hora. Mas o Príncipe Próspero era feliz, intrépido e sagaz. Quando os seus domínios minguaram à metade de almas vivas, convocou um milhar de amigos fortes e de corações alegres, escolhidos entre os cavalheiros e damas da sua corte. E, com eles, formou um refúgio recôndito em uma de suas abadias fortificadas. Tratava-se de uma vasta
O GATO PRETO Edgar Allan Pöe (1809 - 1849) Tradução: S. de M. (Séc. XIX) Não espero nem peço que acreditem na extraordinária e, contudo, vulgar história que lhe vou narrar. Na realidade, seria um louco se tal esperasse, num caso em que os meus sentidos repelem o seu próprio testemunho. E, todavia, eu não sou um doido —e não estou sonhando, com certeza. Mas, como devo morrer amanhã, quero hoje aliviar a minha alma. O meu fim imediato é apresentar ao mundo —claramente, sucintamente e sem comentários —uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas consequências, esses acontecimentos terrificaram-me, torturaram-me, aniquilaram-me. Entretanto, não tentarei aclará-los. Considero-os horríveis, ainda que a muitas pessoas possam parecer menos terríveis do que estranhos. É possível que mais tarde haja uma inteligência mais serena que reduza o meu fantasma à situação comezinha de simples lugar comum —uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável q
O RETRATO OVAL Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) O castelo onde o meu criado achara por bem penetrar à força, em vez de me condenar, deploravelmente ferido como eu estava, a passar uma noite ao relento, era uma dessas construções, misto de grandeza e de melancolia, que por longo tempo ergueram a sua fronte orgulhosa no meio dos Apeninos, tanto na realidade como na imaginação da Sra. Radcliffe. Segundo toda a aparência, tinha sido temporária e recentemente abandonado. Instalamo-nos numa das dependências menos amplas e menos suntuosamente mobiladas, situada numa torre afastada do edifício. A sua decoração era rica, mas antiquada e em ruínas. As paredes, ornamentadas com numerosos troféus heráldicos de todas as formas, eram cobertas de tapeçarias, assim como de uma coleção prodigiosa de pinturas modernas, de grande estilo, em ricas molduras de ouro ao gosto arabesco. Tomei profundo interesse — talvez fosse o meu delírio a causa disso — por esses quadros, suspensos não só
OS TRÊS INSTRUMENTOS DA MORTE G. K. Chersterton (1874 – 1936) Tradução de autor anônimo do séc. XX. Tanto por causa de sua profissão, como por estar convencido, o padre Brown sabia melhor do que qualquer de nós que a morte dignifica o homem. Contudo, teve um sobressalto quando, ao amanhecer, vieram dizer-lhe que Sir Aaron Armstrong tinha sido assassinado. Havia algo de incongruente e absurdo na ideia de que uma figura tão agradável e popular tivesse a menor ligação com a violência brutal do assassínio. Porque Sir Aaron Armstrong era amável até ao excesso e sua popularidade era quase lendária. Parecia uma coisa tão impossível como imaginar-se que “Sunny Jim” se enforcara ou que o pacífico “Mr. Pickwick”, de Dickens, se matara no manicômio de Hanwell. Porque, apesar de Sir Aaron, como filantropo que era, ter de conhecer o lado negro de nossa sociedade, orgulhava-se de fazê-lo da maneira mais brilhante possível. Seus discursos políticos e sociais eram cascatas de anedotas e
Cruel
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