A VINGANÇA - Conto de Terror - Mephisto
A
VINGANÇA
Mephisto
Eu acabara de matar
alguém. Um ente de pura malignidade.
Um
golpe certeiro — apenas um... no coração. Ainda limpava o sangue de minha faca
na barra de minha túnica. Não havia
percebido ainda que era hora de fugir.
Mas
algo me ardia na nuca. Olhei para trás, mas nada mais vi que uma espessa
escuridão. Ainda assim, um peso palpável agredia o meu pescoço. Eu sabia que
era um olhar. Um olhar perfurante como golpe de adaga. Inflamante como ferro em
brasa.
O
nevoeiro tornou-se mais denso. Mais pegajoso. Ameacei uns passos; dei alguns
outros. Parei. Senti que alguma coisa — mão? garras? — comprimia o meu ombro
direito.
Do
fundo do nevoeiro, da escuridão quase marmórea, como pedra sepulcral, cintilaram
duas íris amarelas, cruzadas, na vertical, por pupilas negras.
Então
a coisa piscou para mim.
Puxou-me
o pulso direito. Algo foi pendurado no meu pulso. Algo que parecia uma corda,
mas dotado de cerdas maleáveis. Algo que segurava um peso morto, cuja natureza
não tardei a descobrir.
Ouvi
os ruídos de cascos se distanciando. Senti que a névoa se dissolvia. Vi que a
claridade estonteante do luar retornava a preencher cada um dos silêncios que a
noite produzia.
Olhei
para coisa atada em meu pulso. Eram tranças. Tranças que seguravam uma cabeça
de mulher. Uma cabeça decepada. A cabeça de Megera — filha de Gaia e Urano , mas serva de Satã — que
eu acabara de matar.
—Beije-me – disseram-me aqueles lábios, que se abriam para mim com seus dentes afiados, antes de se cravarem para sempre em meu pescoço.
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