A CASA MAL-ASSOMBRADA - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe

 


A CASA MAL-ASSOMBRADA

Catherine Crowe

(1803 – 1876)

 

Numa ruela estreita de curvas abruptas, que ligava St. Mary Axe a Bishopgate, um incêndio de escassas proporções, ocorrido numa bela e antiga casa senhorial, pertencente à família L..., chamou a atenção da polícia.

O imóvel estava cuidadosamente fechado. As portas e as janelas do rés do chão estavam reforçados com cadeados, apesar de possuírem fechaduras próprias, e nos muros do jardim havia placas que alertavam os imprudentes do perigo que correriam, caso se introduzissem na vivenda, dada a existência de armadilhas.

Como uma casa vizinha se havia incendiado, os homens do corpo de bombeiros tiveram que entrar na mansão proibida pelos telhados. Durante o breve período em que permaneceram nela, foram importunados de várias maneiras e de um modo absolutamente incompreensível.

Utensílios em desuso foram lançados sobre suas cabeças; um deles, empurrado, caiu perigosamente escada abaixo, e o chefe da brigada foi mordido na perna sem saber por quem ou por quê.

Após estes acontecimentos, as autoridades interrogaram Sir L..., que reconheceu, com desgosto, que a casa era mal-assombrada e absolutamente inabitável.

Alguns anos antes, ele havia herdado essa propriedade de seu tio Sir F. G., um velho excêntrico rico e ganancioso, que vivia ali com uma restrita criadagem.

Sir L... passava a maior parte do ano em sua propriedade em Kent e, no inverno, mudava-se para um apartamento alugado em Holborn. Com a morte de Sir F. G., ele desistiu desse apartamento e foi morar em sua nova propriedade, em St. Mary Axe, com sua esposa, quatro filhos e seis empregados.

Mas, desde os primeiros dias, fenômenos perturbadores e inexplicáveis ​​tornaram a vida da família impossível.

Durante as refeições, as toalhas de mesa eram retiradas bruscamente e as louças jogadas no chão; na cozinha, apagava-se o fogo, produzindo densas colunas de vapor e fumaça, como se tivesse acabado de ser varrido por uma inundação. À noite, apagavam-se as velas das pessoas e estas, várias vezes, durante o sono, eram cruelmente golpeadas, arranhadas e até mordidas por seres invisíveis.

Temendo pela saúde e, também, pela sanidade mental de sua esposa e filhos, ameaçado de perder seus serviçais e recusando-se a expor qualquer possível inquilino a tais experiências, Sir L... decidiu trancar a casa mal-assombrada e abandoná-la aos fantasmas, que pareciam tê-la escolhido como moradia.

Sir L... alegou que nunca tinha visto os espectros malévolos, mas tinha ouvido seus gritos e risos que, não obstante, eram fracos e pareciam ser ouvidos de longe.

Apenas duas criadas, ocupadas em lavar os legumes na cozinha, foram surpreendidas, certo dia, pelo súbito aparecimento de três crianças sujas e quase nuas, cujas expressões revelavam ódio e maldade. Elas desapareceram tão abruptamente quanto apareceram, "sibilando como serpentes".

Lady L... declarou que, certa noite, ao voltar do teatro, havia se instalado alguns minutos em frente à lareira de uma das salas do pavimento. De repente, sentiu uma forte lufada de ar gelado na nuca e, acreditando que a porta se abrira, se virou. No entanto, a porta estava fechada, mas ela pôde vislumbrar, perto do teto, um rosto horripilante olhando para ela.

Gritou por socorro, e aquele rosto desapareceu instantaneamente.

Não sabemos se as autoridades insistiram com Sir L... para que lhes autorizasse uma investigação. Acreditamos que não, porque, na realidade, nenhum crime ou delito fora cometido naquela mansão.

 

Versão em português de Paulo Soriano.


Comentários

  1. Fantasticas historias de Catherine Crowe. Espero ter a oportunidade de ver mais contos dessa autora traduzidos aqui.

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    1. Muito obrigado pela mensagem, Jhé. Em breve, pubicaremos mais uma narrativa de Catherine Crowe. Já está no forno. Agurade!

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