O TÚMULO DE GELLERT - Conto Clássico de Horror - Joseph Jacobs

 


O TÚMULO DE GELLERT

(Lenda Celta - País de Gales)

Joseph Jacobs

(1854 – 1916)

Tradução de Paulo Soriano

 

O príncipe Llewelyn tinha um galgo favorito, chamado Gellert, que lhe havia sido dado pelo rei João, seu sogro.  O cão era dócil como um cordeiro em casa, mas um leão na caça.

Certo dia, Llewelyn saiu para a caçada e tocou a corneta à frente de seu castelo. Todos os cães, exceto Gellert, atenderam ao chamado. O príncipe, então, tangeu a sua corneta ainda mais alto e chamou Gellert pelo nome. O galgo, porém, não apareceu. Por fim, Llewelyn não pôde mais esperar e saiu para a caçada sem ele. Naquele dia, o príncipe não se divertiu a contento, porque Gellert — o mais rápido e ousado de seus cães — não estava com ele.

Voltou, então, furioso para seu castelo e, quando chegou ao portão, viu que era justamente o cão Gellert que corria ao seu encontro. Mas quando o galgo se aproximou, o príncipe assustou-se ao ver que das fuças e presas do animal pingava sangue. Llewelyn deu um passo para trás e o galgo se agachou a seus pés, como se estivesse surpreso, ou mesmo com medo, da maneira como seu dono o cumprimentava.

Como o príncipe Llewelyn tinha um filho pequeno, de um ano, com quem Gellert costumava brincar, um pensamento terrível perpassou-lhe o espírito. Então, correu para o quarto da criança. E, quanto mais avançava, mais se deparava com sangue e desordem nos recintos do castelo. Entrou no quarto e encontrou o berço da criança virado e manchado de sangue.

O príncipe Llewelyn, cada vez mais apavorado, procurou por seu filho pequeno em todos os lugares. Mas não conseguiu encontrá-lo em lugar nenhum. Viu, apenas, sinais de algum conflito terrível, no qual muito sangue havia sido derramado. Por fim, teve certeza de que o cão havia aniquilado o seu filho.

Gritou para Gellert:

— Monstro, você devorou ​​meu filho!

Dito isto, desembainhou a espada e mergulhou a lâmina no flanco do galgo, que foi ao chão, emitindo um profundo ganido. Enquanto caía, olhava fixamente nos olhos de seu dono.

Ao passo em que Gellert soltava seu ganido de morte, elevava-se o choro de uma criança, vindo de debaixo do berço. Lá, Llewelyn encontrou o seu filho, que acabara de despertar, são e salvo. Mas, bem ao lado da criancinha, jazia o corpo esquelético de um grande lobo, todo dilacerado e coberto de sangue. Tarde demais, Llewelyn soube o que acontecera enquanto estivera ausente do castelo. Gellert havia ficado para trás para proteger a criança. Lutara com o lobo e o matara. Trucidara a fera que tentara devorar o herdeiro de Llewelyn.

Toda a dor de Llewelyn foi em vão:  ele não poderia trazer seu fiel cão de volta à vida. Então, enterrou o animal fora das muralhas do castelo, à vista da grande montanha de Snowdon, onde todos os passantes poderiam ver o túmulo do galgo, sobre o qual o príncipe depositou uma grande pilha de pedras. E até hoje o lugar é chamado Beth Gellert, ou o Túmulo de Gellert.


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