A PLATAFORMA E O TREM - Conto de Horror - Rafaella Lima
A
PLATAFORMA E O TREM
Rafaella
Lima
Samuel
era um estudante do ensino médio inteligente. Não tinha amigos, pois a maioria
das pessoas o consideravam estranho. Alguns pensamentos negativos rondavam sua
cabeça, mas nada que pudesse ser considerado fora do comum para a fase da
puberdade.
Frequentemente
sentia-se só; não dividia seus problemas com os pais, pois não queria
magoá-los. Passava a maior parte do tempo em seu quarto escrevendo textos de
teor violento sobre seus colegas de classe ou ouvindo músicas agressivas e
depressivas. Os guturais, para ele, eram poéticos. Transferia o desejo de
gritar a plenos pulmões, aumentando ao máximo o volume de seus fones de ouvido.
Nutria
sentimentos de extremo ódio por Vítor, um aluno do último ano, bastante popular
e inconsequente. Samuel sempre foi motivo de chacota no grupinho adolescente.
Ouvia,
quase diariamente, piadas constrangedoras sobre sua aparência física. Era um
rapaz esguio e muito pálido, com problemas de acne no rosto e nariz grande.
No
inverno de junho, ao sair da escola e caminhar até o metrô, foi seguido pelo
grupinho de Vítor. Os rapazes gritavam e apontavam para Samuel, constrangendo-o
na frente dos colegas de escola que caminhavam próximo a ele, como também de
pedestres.
Sentia
como se a pele estivesse desgrudando do osso. Tremia e chorava compulsivamente
de fúria, pois quanto mais rápido andava, mais intensamente o grupo de Vítor
berrava barbaridades sobre ele.
Desceu
as escadas rolantes correndo, mas o trem ainda não havia chegado. O coração de
Samuel batia tão forte, que mesmo com o barulho habitual da estação de metrô,
conseguia ouvi-lo.
Vítor
conseguiu alcançá-lo primeiro que o restante do grupo, e agora estava parado em
sua frente, gargalhando sarcasticamente, enquanto todas as pessoas os olhavam.
Samuel olhou para o lado esquerdo e ouviu o som inconfundível do trem se
aproximando.
Empurrou-o.
O
trem não parou.
Imagem: Renato S.
Cerqueira
Arrepiante. Muito bem desenvolvido, e o sarcasmo sutil no final, deixa o conto ainda mais interessante.
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