UMA SINGULAR HISTÓRIA DE FANTASMA - Conto Clássico de Terror - Autor desconhecido do século XIX ou início do século XX
UMA SINGULAR HISTÓRIA DE FANTASMA
Autor desconhecido do século XIX ou início
do século XX
Tradução de Paulo Soriano
(Boston Courier, 10
de agosto)
Uma história muito singular, que compõe um dos
tópicos sociais sensacionais do dia, é a mais bem autenticada das muitas
histórias sobrenaturais que foram contadas ultimamente.
Há pouco tempo, um jovem e conhecido artista, o Sr.
A., foi convidado a fazer uma visita ao seu distinto amigo, o Sr.
Izzard. A casa estava cheia de convidados, mas um belo e amplo quarto, aparentemente
um dos melhores da casa, foi colocado à sua disposição.
Por três dias, teve ele uma agradável estadia, encantadora
em todos os detalhes, exceto um: todas as noites, o artista padecia de um sonho
horrível. Sonhava ele que fora — ou realmente fora – acordado,
subitamente, por alguém que entrava em seu quarto. E, olhando em volta, via que
o recinto estava brilhantemente iluminado. Na janela, estava uma dama
elegantemente vestida. Parecia estar jogando algo fora, pela janela. Feito
isto, a dama virava o rosto para o seu único espectador. A mulher exibia um
semblante tão distorcido pelas más paixões, que o artista estremecia de
horror. Logo a luminosidade e a espectral figura — de terrível semblante —
desapareceram, deixando o artista mergulhado no terrível pesadelo.
Ao voltar para casa, na cidade, imensamente assombrado
pelo amedrontador semblante que o perturbou por três noites consecutivas, o
artista fez um desenho da terrível figura espectral. E o fez de um modo tão real
e fidedigno que aquela expressão maligna parecia horrorizar todos que a viam.
Não muito tempo depois, o artista fez uma visita
noturna ao Sr. Izzard. Este senhor o convidou à galeria de arte, pois desejava
mostrar-lhe alguns notáveis e antigos retratos de família. Qual não foi
a surpresa do Sr. A. ao reconhecer, entre os retratos, na forma de uma senhora
imponente e bem-vestida, aquela que tanto perturbou seu sono, em sua visita
anterior. Faltava-lhe, contudo, aquela expressão revoltante e perversa.
Assim que viu a pintura, artista, involuntariamente,
exclamou:
— Ora, eu já
vi esta senhora!
— Bem, isto dificilmente seria possível — disse
o Sr. I., sorrindo —, já que a dama retratada morreu há mais de cem anos. Era a
segunda esposa de meu bisavô e de tudo dispunha, menos do crédito da família. Sobre
ela recaía a incisiva suspeita de ter assassinado o filho de seu marido, havido
em um casamento anterior, a fim de tornar seu próprio filho o herdeiro da
propriedade. O infeliz garoto quebrou o pescoço ao cair de uma janela, e
havia todos os motivos para acreditar que ele foi precipitado da janela por sua
madrasta.
O artista contou, então, ao anfitrião as circunstâncias
de sua experiência — ou sonho — e mandou buscar o desenho que fizera da
aparição. Notou-se que, no que diz respeito às características, era idêntico ao
retrato na galeria do Sr. Izzard.
O desenho já foi fotografado, mas, em razão de sua
hedionda expressão, não é nada agradável de se ver.
Fonte: “The Best Ghost
Strories”, Boni & Biveright, Inc., Nova York, 1919.
Comentários
Postar um comentário