O ESPECTRO DE JOHANNES CUNTIUS - Narrativa Clássica de Terror - Henry More


 

O ESPECTRO DE JOHANNES CUNTIUS

Henry More

(1614 – 1687)

Tradução de Paulo Soriano

 

Em 1591, Johannes Cuntius, cidadão e edil de Pentach, na Silésia, com cerca de sessenta anos, morreu repentinamente, em consequência de um coice do seu cavalo.

No momento da sua morte, um gato preto entrou correndo no quarto, saltou à sua cama e arranhou-lhe violentamente o rosto.

Tanto no instante de sua morte, quanto no de seu funeral, rebentou uma violenta tempestade: o vento e a neve "faziam tremer os corpos e bater os dentes dos homens".

Diz-se que a tempestade cessou com uma surpreendente rapidez quando o corpo foi depositado sob a terra. Todavia, imediatamente após o enterro, puseram-se a circular histórias sobre o aparecimento de um espectro que falava às pessoas na voz de Cuntius.

Contaram-se histórias notáveis sobre a consunção de leite de jarras e tigelas, a transformação do leite em sangue, o estrangulamento de pessoas idosas, a retirada de crianças dos berços, o surgimento de toalhas de altar sujas de sangue, o aparecimento de aves mortas e devoradas.

Por fim, decidiu-se desenterrar o cadáver. Verificou-se que todos os corpos ali inumados haviam apodrecido, mas a pele de Cuntius estava tenra e corada, e flexíveis exibiam-se as suas articulações. Quando se lhe colocava um bastão entre os dedos, estes fechavam-se em tono dele, agarrando-o firmemente.

O cadáver conseguia abrir e fechar os olhos e, quando lhe perfuravam uma veia da perna, o sangue jorrava tão fresco quanto o de uma pessoa viva. Isto aconteceu quando o corpo já estivera na sepultura por cerca de seis meses.

Experimentou-se uma grande dificuldade no corte e desmembramento do corpo, assim realizados por ordem das autoridades, devido à resistência que o cadáver oferecia; mas quando se concluiu aquela tarefa, e os restos mortais foram entregues às chamas, o espectro deixou de molestar os cidadãos e de interferir no sono e na saúde das pessoas.

 

Fonte: Dudley Wright (1868 – 1950), “Vampires and Vampirism”, 1914.


Ouça este conto na locução e interpretação de André Egydio de Carvalho:




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