A VELHA AGNES - Conto de Terror - Dolo Spinoza
A VELHA
AGNES
Dolo Spinoza
Tradução
de Paulo Soriano
Todos na
aldeia conheciam a velha Agnes e todos sabiam que ela era uma bruxa; e, como
tal, todos a visitavam e a consultavam, dos mais velhos aos mais novos, dos
mais ricos aos mais pobres.
Não era querida,
para dizer a verdade. Nem mesmo respeitada. Mas era, pelo menos, tolerada e
aceita, malgrado somente por lhes ser útil.
Então vieram os
problemas, aqueles que chegam sempre a uma aldeia: a seca, os animais doentes,
alguma morte inesperada. Uma série de infortúnios encadeados que levam
imediatamente a gente a procurar um culpado.
Não tardaram em
decidir que a culpada era Agnes.
Foi por isso
que, numa manhã fria e enevoada, armados de forquilhas e tochas, arrasaram a
desordenada cabana de Agnes e arrojaram à rua a pobre velha que, assustada e
confusa, tentava proteger o seu esquálido corpo.
No meio do
tumulto, havia apenas um lapso de tranquilidade: o gato de Agnes, sentado no
parapeito da janela, a uma prudente distância, a tudo observando com a
solenidade de um notário.
Agnes olhou para
ele com olhos suplicantes.
O gato
devolveu-lhe o olhar, mas sem perder a tranquilidade.
Por um segundo,
sentiu-se tentado a salvá-la, mas isso significaria desnudar-se, algo que não
lhe parecia deveras conveniente naquele momento e lugar.
Havia chegado o
momento de encontrar outra humana.
Enquanto a
multidão preparava a fogueira para Agnes, o gato preto perdia-se nas sombras da
floresta.
Este conto foi publicado
originariamente, em português e espanhol, na revista Relatos Fantásticos.
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