DESCIDA AO INFERNO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Caesarius von Heisterbach


 

DESCIDA AO INFERNO

Caesarius von Heisterbach

(c. 1180 – c. 1240)


O jovem conde Ludwig prometeu uma casa a quem lhe dissesse a verdade sobre o destino da alma de seu pai.

A oferta chegou ouvidos de um pobre cavaleiro, mui versado nas artes negras, que evocou um espírito maligno e o conjurou a dizer onde descansava a alma do conde Ludwig pai.

O demônio jurou ao cavaleiro, pelo Supremo e por seu terrível julgamento, que o levaria ao lugar onde estava o pai e o devolveria são e salvo.

Já no inferno, viu o jovem conde lugares horríveis e castigos de todas as espécies. Aproximaram-se, então, de um terrível demônio, que estava sentado sobre um bueiro. A pedido de seu guia, o demo retirou a tampa ardente. Tomou uma trombeta de bronze e tocou-a com tanta força ao cavaleiro pareceu que todo o universo estremecia. Sem seguida, o abismo expeliu chamas de enxofre, de cujas chispas se elevou o velho conde.

Disse-lhe, então, o cavaleiro:

Teu filho quer saber sobre o teu estado e se te pode ajudar de alguma maneira.

O velho Ludwig disse que o seu estado era evidente, mas que os tormentos de sua alma poderiam ser atenuados se o seu filho devolvesse tais e tais propriedades, das quais ele se apropriara injustamente.

Como o cavaleiro participou à aparição a incredulidade do jovem conde, o pai Ludwig fez-lhe um sinal só por ele mesmo e pelo filho conhecido.

Então, ante os olhos do cavaleiro, o especto afundou, de volta, no abismo, conduzido pelo demônio.

Embora tenha sobrevivido àquela incursão, o cavaleiro ficara tão pálido e debilitado que mal era reconhecido pelas pessoas. Alguns dias depois, reiterou as palavras do pai ao filho. Estas, todavia, foram de pouca utilidade ao condenado, pois o filho não queria se desfazer das propriedades herdadas.

Reconheço os sinais e não tenho dúvidas de que aquele que tu vistes era o meu pai. Portanto, não serás privado da recompensa ofertada.

Fica com a casa prometida — disse o cavaleiro. — Doravante, só pensarei na salvação da minha alma.

Despojou-se, então, de tudo e se tornou monge cisterciense.


Versão em português de Paulo Soriano.




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