OVELHAS FANTASMAS - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe


 

OVELHAS FANTASMAS

Catherine Crowe

(1803 – 1876)

Tradução de Paulo Soriano



Durante a Guerra dos Sete Anos na Alemanha1, um pastor perdeu a vida numa briga de bêbados na estrada principal. Durante algum tempo, existiu uma espécie de lápide tosca, com uma cruz, para marcar o local onde o seu corpo foi enterrado; mas esta já tombou há muito tempo e um marco ocupa agora o seu lugar.

No entanto, os camponeses ordinariamente afirmavam, assim como vários viajantes, que, naquele local, foram vítimas de ilusão, eis que, como supunham, viram rebanhos que, após investigações, revelaram-se apenas uma visão.

É claro que muitas pessoas encaram isto como uma superstição; todavia, uma confirmação muito singular da história ocorreu no ano de 1826, quando dois cavalheiros e duas damas passavam pelo local numa carruagem postal.

Um dos senhores era um clérigo e nenhum deles tinha ouvido falar do fenômeno que se dizia ligado ao local. Na ocasião, conversava-se sobre as perspectivas do clérigo, que se dirigia a um vicariato para o qual acabara de ser nomeado, quando viram um grande rebanho de ovelhas, que se estendia ao longo da estrada, e que era acompanhado por um pastor e um cão preto de longos pelos.

Como dá-se com gado naquela estrada não era nada incomum — e, de fato, eles se haviam deparado com vários rebanhos ao longo do dia —, nenhum comentário foi feito na ocasião, até que, de repente, cada um olhou para o outro e disse:

O que aconteceu com as ovelhas?

Deveras perplexos com o súbito desaparecimento, pediram ao cocheiro que parasse e desceram todos para subir uma pequena elevação e olhar redor. Mas, como não conseguiam descobri-las, perguntaram ao cocheiro postal onde estavam as ovelhas. Para a infinita surpresa de todos, souberam que ele não as tinha visto. Diante disto, pediram-lhe que acelerasse o passo, para poderem alcançar uma carruagem que tinha passado por eles um pouco antes, e perguntar se aquele grupo tinha visto as ovelhas; mas eles não as tinham visto.

Quatro anos depois, um carteiro, chamado J. estava na mesma estrada, conduzindo uma carruagem, na qual estavam um clérigo e sua esposa, quando avistou um grande rebanho de ovelhas perto do mesmo local. Vendo que se tratava de ovelhas muito boas, e supondo que tinham sido compradas numa feira, que se realizava a alguns quilômetros dali, J. puxou das rédeas e parou o cavalo, dirigindo-se ao clérigo para lhe dizer-lhe que queria inteirar-se do preço das ovelhas, pois pretendia ir à feira no dia seguinte. Enquanto o ministro lhe perguntava a que ovelhas se referia, J. desceu e se viu no meio dos animais, cujo tamanho e beleza o encantavam. Passaram pelo cocheiro postal com invulgar velocidade, enquanto ele se dirigia por entre as reses para encontrar o pastor. Contudo, ao chegar ao fim do rebanho, as reses subitamente desapareceram. Foi então que soube que os seus companheiros de viagem não as tinham visto.


Fonte: The Nigth-Side of Nature, B. B. Mussey & CO, Boston,1850.


Nota:

1Entre 1756 e 1763.

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