TWARDOVKI E O DEMÔNIO - Conto Tradicional Polonês

 

TWARDOVKI E O DEMÔNIO

Conto tradicional polonês



Pan Twardovski, depois de haver esgotado todas as fontes de estudo, invocou o demônio e, conforme o costume, fez um pacto com ele. Em troca de sua alma, o demônio lhe proporcionaria o que quisesse, sobretudo grandes conhecimentos e poderes mágicos.

O espírito mau tinha que obedecer a ele em três casos determinados e, em troca dessa submissão, Twardovski pertenceria ao Inferno. Twardovski, todavia, quis enganar o diabo, fazendo incluir, no documento assinado com o sangue à guisa de tinta, que o demônio somente poderia arrastá-lo ao Inferno durante a sua visita a Roma. Assim, ciente de que tal viagem dependia apenas de sua vontade, Samuel tinha aceitado, sem hesitação, as demais condições exigidas pelo tentador.

Mas, para o desconforto do tentador, Twardovski fizera, até então, apenas um dos três pedidos: o de se tornar o grande sábio da Polônia, quer no campo das ciências, quer no da magia.

Certa feita, passando-se por uma encantadora e sedutora dama de vestido negro, o diabo induziu o sábio a acompanhá-lo a uma taverna de Varsóvia.

Quando Twardovski lá chegou, o demônio assumiu a sua forma original, dizendo-lhe:

Meu caro, agora tu és meu.

Por quê?

Porque estás em Roma. Não sabias que Roma é o nome desta taverna?

Tens razão, não deixo de estar em Roma. Mas, antes de te seguir, é preciso que me executes os dois pedidos remanescentes.

É verdade — disse o demônio.

Era grande a dificuldade. Mas qual é a coisa que seja difícil a um demônio?

Pois bem, desejo — disse o homem, após meditar — que tomes um banho de água benta!

O demônio fez uma horrível careta. O pacto, contudo, havia sido formalizado. Assim, o diabo atitou-se para dentro da sacra pia.

Suportado, embora com má cara, o terrível suplício, Twardovski, vendo que o seu adversário era capaz de tudo para carregar consigo a sua alma, recorreu aos processos extremos. Sabia que, se do diabo satisfizesse a sua última vontade, as garras do espírito medonho já estariam afiadas para trespassá-lo e levá-lo consigo.

Amigo — disse-lhe ele, formulando o derradeiro dos pedidos —, sou casado com uma mulher moça e bonita. Faz-me, então, o favor de viver em paz com ela por apenas dois meses…

Mas, tão depressa essas palavras foram pronunciadas, o demônio, vencido na peleja, desapareceu, fugindo para sempre pelo buraco da fechadura…



Narrativa adaptada por Paulo Soriano a partir de conto de autor anônimo, publicado na revista “Almanach Eu Sei Tudo”, editado em 1928.

Imagem: Michał Elwiro Andriolli (1836 – 1893).

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