A DAMA DA MORTALHA - Conto de Terror - Paulo Soriano

A DAMA DA MORTALHA Paulo Soriano O bebê de tarlatana rosa emborcara no chão com a caveira voltada para mim, num choro que lhe arregaçava o beiço, mostrando singularmente abaixo do buraco do nariz os dentes alvos. João do Rio — Ah, meu jovem Saul! Você é advogado e sabe muito dessa coisa injusta à qual chamamos Direito — disse-me o velho Roberval, numa Terça-Feira de Carnaval. — Deve ter estudado História do Direito, não é mesmo? — Somente um pouco de Direito Romano, confesso. — Sim, sim! — prosseguiu Roberval. — Os jovens não estudam mais essas coisas enfadonhas e antiquadas. Mas estou certo de que você pouco sabe da real “prática jurídica” de outrora. — Isso é verdade. Mas o que tem isto a ver com o Carnaval? — indaguei. — Bem — prosseguiu o ancião, bebericando a cervejinha —, tudo aconteceu, justamente, numa Terça-Feira Gorda. O bloco descera a Federação e passava, agora, à frente do Campo Santo, o cemitério mais circu...