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Mostrando postagens de março, 2025

O SONHO DE UMA HORA - Conto Clássico Cruel - Kate Chopin

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O SONHO DE UMA HORA Kate Chopin (1850 – 1904) Porque a Sra. Mallard sofria do coração, foi com grande cuidado que lhe anunciaram, tão delicadamente quanto possível, a morte do marido. Foi sua irmã Josephine quem lhe deu a notícia, com frases entrecortadas e veladas, traduzidas em insinuações que deixavam entrever, aqui e ali, a verdade. Richards, o amigo de seu marido, também a acompanhava. Quando a notícia do acidente ferroviário foi recebida, era ele quem estava na redação do jornal, e o nome de Brently encabeçava a lista de “mortos”. Teve tempo, apenas, de confirmar, por meio de um segundo telegrama, a veracidade do fato, antes de correr, pressuroso, à casa do falecido, para evitar que qualquer outro amigo menos cuidadoso e menos delicado levasse à Sra. Mallard aquela triste notícia. Esta não ouviu a história como uma outra mulher o faria, tolhida pela paralisante incapacidade de aceitar o seu significado. Ao contrário, explodiu em prantos imediatamente, abandonando-se de inop...

O CADÁVER RESSURRECTO DE NANCHANG - Conto de Terror - Conto Tradicional Chinês

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  O CADÁVER RESSURRECTO DE NANCHANG Conto tradicional chinês Em Nanchang, Kiangsi, em Peilanseu, dois jovens estudavam juntos. Gostavam muito um do outro e eram muito próximos. O mais velho, tendo ido visitar sua família, morreu repentinamente. Quanto a isto, o mais novo nada soube. Uma noite, assim que se deitou, o seu grande camarada abriu a porta, entrou, sentou-se à beira da cama, pôs-lhe a mão nos ombros e disse-lhe: —Ainda não passaram dez dias desde que eu o deixei e eis-me aqui, morto: agora sou um espírito. Mas a amizade que eu lhe tinha permanece acesa. Por isso, eu não queria partir em antes me despedir. O medo o impediu de responder; mas o amigo disse-lhe, suavemente: —Se eu tivesse vindo para lhe fazer mal, falaria de forma tão amigável? Não tenha medo. Vim confiar-lhe os meus últimos desejos. — O que deseja? — perguntou o jovem, um pouco mais tranquilo. — Bem — disse o outro —, a minha mãe tem mais de 70 anos e minha esposa ainda não tem 30. Alguns al...

O PÁROCO AUXILIAR DE CHILTON POLDEN - Narrativa Clássica Verídica Sobrenatural - Lady Margaret Shelley

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O PÁROCO AUXILIAR DE CHILTON POLDEN Lady Margaret Shelley (1856 – 1947) Tradução de Paulo Soriano Durante alguns anos do século passado, a paróquia de Chilton Polden, na Cornualha, foi ocupada por um clérigo chamado Drury. A paróquia era muito dispersa e intercalada por trechos de agrestes extensões de charneca. Certa noite, em abril, quando voltava para casa, o Sr. Drury tropeçou num terreno irregular e torceu gravemente o tornozelo. Depois de descansar um pouco, retomou o caminho e, com muitas pausas e grande dificuldade, chegou finalmente ao priorado, de onde enviou uma ao médico, pedindo-lhe que viesse imediatamente. O esforço de percorrer o último quilômetro com o tornozelo machucado aumentou o inchaço e a inflamação a tal ponto que, ao examiná-lo, médico disse: — O senhor estará impossibilitado de exercer o seu ofício por três semanas. — Esta é uma terrível notícia — respondeu o Sr. Drury. — A Páscoa é daqui a quinze dias e o clero local sabe muito, menos oficiar. O...

O ESPÍRITO MALIGNO DE CATARINA - Narrativa Clássica Verídica Sobrenatural - Collin de Plancy

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O MALIGNO ESPÍRITO DE CATARINA Collin de Plancy (1794 – 1881) Tradução de Paulo Soriano O que vamos relatar aconteceu no Peru, na terra dos Ititãs. Uma jovem, chamada Catarina, culpada de vários sacrilégios, teve uma morte infeliz aos dezesseis anos. Imediatamente após a sua morte, o seu corpo tornou-se tão fétido que foi preciso tirá-lo de casa e levá-lo ao ar livre, para que se pudessem livrar do miasma que a jovem exalava. Neste ínterim, ouviram-se os cães a uivar; e um cavalo, que até então era muito manso, pôs-se a dar coices, a agitar-se, a bater com os cascos e romper as amarras. Um jovem, que estava deitado, foi arrastado violentamente, pelo braço, para fora da cama. Uma empregada levou um pontapé no ombro, que deixou marcas durante vários dias. Tudo isto aconteceu antes de o corpo de Catarina ter sido enterrado. Algum tempo depois, vários habitantes locais viram uma grande quantidade de tijolos e telhas derrubados com grande ruído na casa onde Catarina morrera....

CHARLOTTE CORDAY - Narrativa Clássica Verídica de Horror - Thomas Carlyle

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CHARLOTTE CORDAY Thomas Carlyle (1795 – 1881) Tradução de autor anônimo do séc. XX Na sala de espera do Palácio da Intendência, onde vêm e vão, atarefados, os deputados, uma jovem, acompanhada por um velho criado, despede-se grave e gentilmente do deputado Barbaroux. Figura normanda majestosa, vinte e cinco anos, o rosto fogoso e sereno. Chama-se Charlotte Corday. Até aqui, quando ainda existia a nobreza, chamava-se de Armans. Barbaroux deu-lhe uma carta para o deputado Duperret — aquele que uma vez, na efervescência, desembainhara a espada. Parece que vai a Paris com algum recado. “Era uma republicana antes da revolução e nunca lhe faltou energia”. Nesta formosa figura de mulher há mesa e decisão. “Por energia ela entende o espírito que guia aqueles que se sacrificam pela pátria”. Esta formosa Charlotte surgiu de repente como uma estreia da sua recôndita tranquilidade; cruel e formosa como um esplendor — meio angélico e meio diabólico — para brilhar um momento e num momento s...

O PARAÍSO DOS GATOS - Conto Clássico Fantástico - Émile Zola

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O PARAÍSO DOS GATOS Émile Zola (1840 – 1902) Tradução de autor anônimo do séc. XIX Nunca vi gato mais parvo que o angorá que uma das minhas tias me deixou em testamento. Foi ele, foi esse bichano, que me contou ao borralho a história que se vai ler. I Orçava eu pelos dois anos e não havia gato que me excedesse em ingenuidade e gordura. Em tão tenra idade, mostrava ainda toda a presunção de um animal que menospreza os regalos do lar. Entretanto, que reconhecimento devia eu à Providência por me ter posto em casa de sua tia! A boa mulher adorava-me. O meu quarto de dormir era ao canto do armário onde não faltava a fofa almofada de penas e o cobertor de três panos. A mesa ombreava com a cama; pão e sopa eram coisas que eu nunca provava; só comia bife à inglesa e filé. Pois, senhor, no meio de tanta blandícia, só tinha um desejo, um sonho: era esgueirar-me por uma nesga da janela e fugir para o telhado. As carícias pareciam-me insossas, a elasticidade do meu colchão causava-me ná...