A INSPIRAÇÃO DE CONAN DOYLE - Narrativa Clássica de Mistério - Autor anônimo do séc. XX
A INSPIRAÇÃO DE CONAN DOYLE
Autor anônimo do séc. XX
Numerosas pessoas conhecem “O Cão de Baskerville”, o eletrizante romance de Conan Doyle, mas raras conhecem a sua origem. Conta-se que o autor inspirou-se em fato ocorrido na Índia e que se pode resumir deste modo:
Certo dia, espalhou-se no Pumjab meridional a notícia de que havia, em determinado lugar, um túmulo, no qual aparecia, alta noite, um fantasma tão horrendo que muitas pessoas perdiam o sentido ao vê-lo.
Um indiano passou próximo a esse túmulo, cantando para afugentar o medo, mas, de súbito, ouviu um uivo, que o deixou paralisado de terror.
Voltou-se e viu, à entrada da tumba, horrível cabeça de hiena que lançava raios de luz.
— Era verdadeiro demônio — contou depois o indiano. — Tinha apenas cabeça, da qual saía fogo amarelo-esverdeado, e também os olhos expeliam labaredas, como se fossem dois faróis que se fixassem em mim. Se não é verdade, que eu morra!
Duas noites depois, encontravam-se alguns residentes da aldeia próxima sentados na praça principal, quando chegaram dois homens desfalecentes, com a fisionomia transformada pelo medo, dizendo-lhes que, ao passarem pela tumba, viram horrenda hiena do tamanho de um búfalo, que expelia fogo pela cabeça. Tinha a boca aberta, com dentes agudos e língua vermelha, da qual jorrava baba e sangue. Ficaram imobilizados pelo pavor, incapazes de um único gesto. O demônio, entretanto, passou sem lhes fazer coisa alguma.
Outros viram esse fantasma e todos afirmavam que só tinha cabeça e que dela se desprendiam chamas. Segundo uns, tinha o tamanho de um grande cão; outros afirmavam que era como um búfalo e não faltou quem afirmasse que tinha um não sei quê de camelo. Descreviam-no, geralmente, em forma de animal, se bem que alguns lhe atribuíssem forma humana. Muitos não tinham visto o fantasma, mas lhe ouviram os gritos durante a noite.
Com o correr do tempo, ninguém mais se atreveu a passar, à noite, pelas cercanias desse túmulo.
Uma noite, ao regressar a casa, um engenheiro inglês, acompanhado por um indiano, ao passar perto da tumba, ouviu um grito que lhe gelou o sangue nas veias. Pararam e viram sair da escuridão uma coisa horrorosa: um animal do tamanho de enorme cão, de pelo comprido e eriçado. A cabeça era terrífica, pois estava como envolta em fogo; os olhos deitavam chispas. O animal mirou-os um instante, voltou-se e dirigiu-se para o túmulo. Soaram duas detonações. O inglês disparara sua carabina. O fantasma desapareceu. Acenderam, então, um archote. Percorreram os arredores do túmulo, mas não lograram ver coisa alguma. Esse inglês, que trabalhava nas minas de sal das redondezas, sabia muito bem que a aparição nada podia ter de sobrenatural. Devia ser, portanto, um estratagema de ladrões de sal e decidiu-se a descobri-los.
Na noite seguinte, postou-se com o indiano atrás de uma árvore, perto do túmulo, e aguardaram horas e horas. Estavam já dispostos a abandonar seu posto quando o grito terrível ressoou no silêncio da noite; por três vezes se repetiu e, por fim, apareceu o fantasma, que se deteve, fixando neles o olhar de fogo.
A luz mágica, que rodeava sua cabeça, era mais forte do que nunca. O inglês apontou e disparou: o espectro lançou um grito lancinante e dirigiu-se para a tumba.
Acenderam uma lamparina elétrica e foram em sua perseguição. Viram que o animal se metia por um buraco da parede do túmulo, bem dissimulado por cactos. O inglês também meteu-se por ali, caminhando de gatinhas por uma espécie de túnel. Chegaram ao interior do túmulo e aí viram, afinal, o “fantasma” caído no chão. Estava morto. Mesmo inerte, causava terror. Fosforescência envolvia sua horrível cabeça e de sua boca saía espuma e sangue igualmente luminosos. Não era senão a hiena enorme com a cabeça e a boca untadas com substância fosforescente, provavelmente sulfureto de cálcio. O túmulo estava cheio de sal roubado das minas, um montão sal-gema que chegava até a cúpula da tumba, deixando livres apenas os cantos da construção.
Os ladrões tinham conseguida domesticar uma hiena que, com a substância fosforescente que esfregavam em sua cabeça, enchia de temor toda a circunvizinhança, fazendo com que, desde o anoitecer, ninguém passasse por ali. Os malfeitores, então, podiam agir à vontade. Eis a verdadeira história em que Conan Doyle baseou sua novela.
Fonte: “Careta”/RJ, edição de 13 de outubro de 1951.
Comentários
Postar um comentário