EXPULSOS POR UM FANTASMA - Narrativa Verídica Sobrenatural - Autor anônimo do séc. XX

EXPULSOS POR UM FANTASMA

Autor anônimo do séc. XX



É um espírito e não combate com lealdade — disse Fred Koett, um fazendeiro de Great Bend.

Estas palavras não são aceitáveis, mas quem poderá censurar a conduta e as palavras de Fred Koett quando souber o que lhe aconteceu?

Abandonou a casa mal-assombrada, deixando as colheitas secarem nos campos e mudando-se com a mulher e filhinho para um lugar remoto onde pudesse se refazer das noites mal passadas e acalmar os nervos abalados.

O mais estranho é que as aparições se deram na fazenda que viu nascer Koett e o hospedou quarenta e um anos, sem que ele notasse jamais a presença de um espirito.


ATRÁS DA VIDRAÇA


Os males começaram há alguns meses e justamente quando o rico fazendeiro casou a segunda vez com uma jovem de vinte e um anos. Nada estranho aconteceu na lua de mel dos noivos; porém, o primeiro dia que voltaram em casa cara, às oito e meia da noite, começaram as singularidades.

Quando a Sra. Koett estava no andar superior com a criança de quatorze meses, filho da primeira mulher de Koett, o marido, dirigindo-se à cozinha, avistou um rosto feio que olhava através a vidraça para ele. Pensando que fosse algum vagabundo, correu fora para fazê-lo fugir, mas o vulto havia desaparecido!

Entretanto, inquieto à porta da cozinha, ouviu o seu cão de guarda latir furiosamente. O fazendeiro tomou um pedaço de pau e correu ao canil, mas não achou nada anormal, somente era inexplicável a fúria do cão. Porém, com maior surpresa, ouviu relinchos e mugidos vindos do estábulo. Os cavalos e os bois, assim como Rover, pareciam acalmar-se com a sua presença, e o fazendeiro não achava explicação para tanta agitação dos animais. Saiu do estábulo para correr ao galinheiro, pois de lá vinham estranhos ruídos. Mas, também ali, não achou nada; vagou mais de uma hora no terreiro, esperando ter de um momento para outra a explicação de tanto alvoroço.

De repente, quando já estava cansado de andar inutilmente de um lado para o outro, viu, junto do paiol, um vulto que se agitava. Gritou:

Que está fazendo aí?

O vulto, que parecia ter dois metros de altura, fugiu rápido, pulou por cima de uma cerca e desapareceu na horta.



Fred Koett


UMA FAZENDA SEM SOSSEGO


O Sr. Koett que não cria em fantasmas, riu e gritou para o vulto que desaparecia:

Teve muita graça. Volte e repita a peça!

Mais de uma vez o fazendeiro se arrependeu haver feito aquele convite, que foi aceito pelo espírito. Depois daquelas palavras, o fazendeiro entrou em casa para contar o fato à mulher.

Estava determinado que Koett não dormiria aquela noite! Mal apenas conciliava o sono, os cavalos começaram a relinchar, trepidantes, e os bois faziam um alarido semelhante ao de dez caminhões em correria.

Que fazenda barulhenta! Não achas? — disse a mulher.

De costume, não é assim, querida, mas esta noite deve estar por perto um cão de fora ou raposa — respondeu Koett.

Naquele momento, veio da janela um horrível gemido. A mulher perguntou o que seria e Koett respondeu que era o vento. De madrugada, cessaram os barulhos e Koett teve que se levantar para cuidar da lavoura. Apenas se pôs de pé, constatou que uma estátua de Nossa Senhora havia mudado de lugar e que um retrato da primeira mulher estava com a cara virada para a parede. O fazendeiro, estupefato, perguntava a si mesmo — pois estava convencido que algum malvado se divertia à sua custa — como ele havia podido fazer tudo aquilo. Depois, sossegou, pensando que os fatos não se repetiriam. Porém, enganava-se: outras singularidades aconteceram e cada vez mais impressionantes.


O RETRATO MOVE-SE


A sua mulher tornou-se nervosa e estava sempre assustada com a ideia de que a casa fosse habitada por espírito, e os animais adoeciam e depereciam a olhos vistos, pois não tocavam mais nos alimentos, nem dormiam; porém, a vítima era Koett.

Depois de haver trabalhado da manhã à noite, um fazendeiro precisa de uma noite de absoluto descanso. Ao contrário, quando, exausto, adormecia alguns minutos, apesar dos ruídos inexplicáveis e os gemidos dos seus animais, o fazendeiro era despertado pela mulher apavorada, que lhe perguntava:

Que está acontecendo?

E, acordando, ouvia os passos de uma pessoa que subia a escada, parava diante da porta do quarto de dormir e batia três pancadas. Às vezes, quando ele corria a abrir a porta, via um vulto que sumia no escuro. Durante as duas primeiras semanas, o desgraçado fazendeiro estava mais que certo que o que lhe acontecia era obra de algum vizinho, e se consolava pensando na vingança que ia tirar quando conseguisse ter nas suas robustas mãos o sujeito. Porém, uma noite de lua cheia, quando os esposos, acordados, observavam uma parede, viram o retrato da primeira mulher de Koett lentamente mudar de posição, virando a cara para a parede.

Até aquele momento, a situação havia sido calada pelos dois esposos; porém, eles se viram obrigados a reunir um conselho de família.

A opinião geral foi que alguém, talvez por ciúme quisesse forçar a segunda mulher a abandonar Koett, fazendo-lhe crer que a casa era assombrada pelo espírito da primeira mulher. Todavia, a mãe da mulher e um seu irmão, muito corajoso, foram morar com o casal. Ao mesmo tempo acrescentou-se ao pessoal três camponeses, Charles Ammond, C. J. Ortaer e Harry Edmonds, todos homens que sempre sorriam, irônicos, quando se falava de espíritos.


UM MEMORÁVEL SOCO


Ammond era especialmente incrédulo. Porém, justamente à primeira noite, mudou de parecer… Costuma-se dizer que os espíritos nunca andam soltos antes da meia-noite, mas aquele que habitava a casa de Koett punha-se à obra apenas anoitecia e retirava-se somente de madrugada. Assim contava o desgraçado fazendeiro:

Aquele estranho ser evidentemente dorme o dia inteiro enquanto eu trabalho; depois, ao anoitecer, acorda-se como as corujas e começa a perseguir-me até amanhecer o dia.

Aquela primeira noite, cerca das dez horas, foi Ammond despertado no seu quartinho por um terrível estrondo vindo de um quarto próximo.

Agora vou te dar alguma coisa que te fará berrar com razão! — exclamou Ammond; e, sem acender sequer a luz, dirigiu-se ao outro quarto e abriu a porta. Saía dali o mesmo vulto de cerca de dois metros de altura, que Koett havia visto diversas vezes. O vulto afastou-se, mas Ammond perseguiu-o. Então, o espectro voltou-se e travou luta curta, mas terrível. A única coisa que se lembrava Ammond era haver sido derrubado ao chão com um soco no queixo.

Não pode ser senão o espírito de um homem — disse Ammond. — É impossível que uma mulher tenha tanta força!

Os outros dois camponeses, também convencidos da presença dos espíritos, abandonaram a fazenda para procurar serviço noutro lugar.


OS TIROS DE CARABINA


A sogra de Koett, a Sra. Waddel, também mudou de opinião a respeito dos espíritos quando viu os quadros do seu quarto oscilarem, às vezes com a regularidade de ponteiros de relógio, às vezes rapidamente como nos terremotos. Havia também provas inegáveis, pois teve o cuidado de marcar muitas vezes, antes de se deitar, a posição dos quadros na parede com riscos de lápis, os quais, na manhã seguinte, indicavam claramente haverem sidos mudados de posição.

Estando afinal farta destes sustos, a sogra de Koett regressou à sua casa com o irmão. Foram substituídos pelos esposos McGuire, parentes de Koett, que habitavam em Oklahoma e que riam gostosamente quando ouviam contar as desventuras de seus parentes perseguidos pelos espíritos.

Uma só noite bastou para que se compenetrasse do fato o casal que, uma semana depois, regressou a Oklahoma.

No auge do desespero, resolveu-se Koett finalmente a escrever ao governador do Kansas, Bon S. Paulen, que tomou em séria consideração a desgraça do homem e encarregou o xerife James Hil de prestar-lhe auxílio.

O xerife, quando soube o nocaute sofrido por Ammond, exclamou:

Deve ser um espírito de punhos bem duros, e ninguém que tenha dois punhos bastante duros para mandar um individuo ao outro mundo pode sumir sem ser preso. Mesmo é bom ele ter as mãos grandes, pois será mais fácil metê-las nas algemas.

O xerife despachou para o local cinco policiais armados de carabinas. Um passou a noite no paiol, outro se postou no galinheiro e os outros três acamparam no jardim para tomar de surpresa o espírito quando ele fosse ulular às janelas.

Às dez e quinze, os três homens postados no jardim viram um vulto. Era uma figura negra, alta e inconsistente, que caminhava para eles com uma calma certamente sobrenatural. Os três agentes apontaram as carabinas e deixaram o vulto adiantar-se mais. Depois, uma voz gritou:

Alto lá! Em nome da lei!

Porém o vulto prosseguiu para eles.

Pare ou faremos saltar os seus miolos!

A intimação era mais que decidida, porém o espectro ainda mais se adiantou. Com um forte estampido, as três carabinas metralharam-no por diversas vezes com os seus projéteis. O fantasma parou, soltou os costumados lamentos e depois, com a maior calma, voltou atrás, pulou uma cerca de uns dois metros de altura e desapareceu no pomar.


MAIS ESPERTO DO QUE NUNCA


O dia seguinte, os policiais asseguraram a Koett havê-lo libertado do espectro; porém, enganavam-se.

À noite, ele se apresentou da forma de costumeira e atormentou mais do que até então.

Teve-se o golpe final quando Koett conseguiu fazer dormir no paiol três de seus ajudantes. Acordados aos latidos do cão, saíram com os fuzis, avistaram o espectro, crivaram-no de tiros e, com terror indizível, viram-no de novo pular ao outro lado da cerca e desaparecer no pomar. Depois deste fato, Koett abandonou a luta contra o espectro.

Vendeu todo o gado e uma boa parte da mobília e abandonou a casa, guardando o mais estrito segredo do seu novo endereço.

Quando Koett voltar à fazenda, terá todos os auxílios possíveis das autoridades. Estas últimas, bem como os vizinhos do fazendeiro, pensam que a coisa não tem nada de sobrenatural; segundo eles, trata-se de alguém que se diverte à custa do desgraçado Koett.


Fonte: “Leitura para Todos”/RJ, edição de outubro de 1928.

Fizeram-se breves adaptações textuais.


 

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