CURIOSO TROFÉU DE NOBREZA BÁRBARA - Narrativa Clássica - Narrativa Cruel - Pálias Moxife
CURIOSO
TROFÉU DE NOBREZA BÁRBARA
Pálias
Moxife
(Pseudônimo
de autor desconhecido do séc. XX)
A
ilha de Bornéu, que pertence à Inglaterra e à Holanda[1], é
a maior ilha do mundo, depois da Nova Guiné. Numa superfície de 735.000
quilômetros quadrados, abriga uma população de dois milhões de almas. Quando
Fernando de Magalhães a descobriu, em 1518[2],
ali já existia o bizarro costume indígena que a tradição oral vem mantendo até
hoje com a simples explicação — “Adate niquite”, que quer dizer: “costume dos
meus pais”.
Essa
tradição consiste em se enobrecer cortando cabeças. Desde criança, o indivíduo
de Bornéu, na sua gabolice infantil, a
contar a importância paterna, mede-a pelo número de cabeças humanas cortadas pelos seus ancestrais.
Ali
corre a seguinte lenda, entre os dajaques[3]:
Um
rapaz, da alta nobreza dajaquena, amava uma donzela da mesma estirpe. Mas esta
não via ainda no pretendente à sua mão atos que demonstrassem seu valor
pessoal, não obstante sua aparente virilidade. Querendo o rapaz dar provas do
seu valor, internou-se na floresta, trazendo de lá um grande cervo. Não bastou.
Novamente se internou na mata o intrépido rapaz, trazendo dessa vez um feroz e
enorme orangotango, do qual muitos heróis tinham fugido. A donzela dajaqueana
não se satisfez. Queria uma cabeça humana. O rapaz, desesperado, partiu,
voltando pouco depois com a cabeça de uma mulher ainda sangrando.
—Agora,
sim, meu amado, és um homem! (exclamou a donzela em êxtase). Podes levar-me contigo!
A
cabeça cortada era a da própria mãe da donzela, da futura sogra do herói...
Ilustração: F. Boyle.
Fonte: Careta, edição de 26 de
junho de 1941.
[1]
Hoje, a ilha de Bornéu integra os seguintes países independentes: Indonésia
(desde 1945), Malásia (desde 1957) e o Brunei (desde a extinção do protetorado
britânico em 1984). De sua feita, a maior ilha do mundo é a Groenlândia.
[2] Na
verdade, no ano de 1521.
[3] Ou
dayaks. A etnia dayak era especialmente temida por sua antiga tradição e prática de
caçadores de cabeça.
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