UM ESTRANHO SUICÍDIO - Conto Clássico de Morte e Mistério - Eximí Opfalas
UM
ESTRANHO SUICÍDIO
Eximí
Opfalas
(Pseudônimo
de autor desconhecido do séc. XX)
Eram
quase duas horas da madrugada quando os policiais de ronda, nas cercanias de Curzon street e Queen street, em Londres, ouviram três tiros que pareciam ter
partido do Hotel Washington, que fica na esquina daquelas duas ruas.
Um
dos policiais, ao aproximar-se do hotel, viu ali entrar um homem que parecia
fugir. E, com outro policial, que vinha de Picadilly pela Hall-Moon street, entrou no hotel de arma engalhada.
Ao
entrarem no vestíbulo, viram os policiais que o homem, que para ali correra,
galgava, apressado, os primeiros degraus escada. Súbita intimação dos policiais
o fez parar. Era um homem de aspecto abatido, mas vestido com elegância. Trazia
no bolso do smoking um revólver ainda
quente. Dos cinco cartuchos, três haviam sido detonados momentos antes.
Algemado e interrogado, disse chamar-se John Sallisbury, com 35 anos de idade,
celibatário, sem profissão, domiciliado naquele mesmo hotel. Confessou que matara
um homem na esquina da Clarges street
depois de uma discussão.
De
fato, ali estava um indivíduo morto, com ferimentos de bala no crânio. Feita a
autópsia, notaram os médicos legistas que, além dos três ferimentos
provenientes das balas do revólver de Sallisbury, havia outro, à primeira vista
imperceptível, que parecia praticado com fino estilete e que trespassara o
coração da vítima. Mas os ferimentos das balas de Sallisbury eram mais que
suficientes para causar a morte. Algumas equimoses também indicavam que a
vítima havia lutado.
Interrogado
Sallisbury novamente, negou qualquer cumplicidade. Assumia inteira
responsabilidade pelo assassínio. A polícia não pôde descobrir a arma
perfurante nem o portador.
A
vítima, que se chamava Donald Fay, era cobrador de um banco; mas, na véspera
daquele dia, havia prestado contas exatas do dinheiro que tinha em seu poder, o
que afastava a hipótese de latrocínio. Mas a justiça inglesa é inexorável. Quem
mata, sem ser em legitima defesa comprovada, deve morrer.
Não
obstante a habilidade do advogado em reclamar esclarecimentos sobre o ferimento
no coração, a confissão do acusado e a comprovação dos ferimentos a bala terem
sido feitos pela arma encontrada em suas mãos, John Sallisbury foi condenada à
morte.
Marcado
o dia da execução, ministrados os últimos confortos ao condenado e perguntada qual
a sua última vontade, Sallisbury apresentou ao carcereiro uma carta endereçada
a Sydney Holly, em Dublin, pedindo que a enviassem ao destinatário logo após à
sua morte, pois aquela missiva continha as expressões de última vontade. No
mesmo dia, foi Sallisbury executado e sua derradeira carta enviada ao
destinatário.
Dois
dias depois, o Presidente do Tribunal que Condenara John Sallisbury recebeu de
Sydney Holy a seguinte carta:
“My
Lord Presidente.
Cumprindo
a última vontade do meu finado amigo de infância John Sallisbury, condenado à
morte por esse Tribunal, tenho a honra de enviar-vos a carta inclusa.
Com
os comprimentos do obediente servo, verdadeiramente vosso.
Sidney Holly”.
A
carta escrita pelo condenado, em letra cursiva e clara, era a seguinte:
“My
Lord Presidente.
A
sentença condenatória desse Tribunal, e que me tirará a vida, não poderá ser
mais revogada ao lerdes esta carta. Todavia, a bem da Justiça de Sua Majestade
Britânica, cabe-me prestar alguns esclarecimentos sobre o assassínio de Donald
Fay, a fim de que apareça à luz da verdade a minha exata culpa.
Conforme
apurou a polícia, e eu mesmo declarei, a minha vida era ultimamente pesado
fardo. Fiquei, pois, em absoluta miséria, após ter dissipado uma herança 50.000
libras. Resolvi, por isso, suicidar-me. Com as últimas duas libras que possuía,
comprei o revólver e as balas encontradas pela polícia em meu poder. Mas, ao
voltar para casa — considerando, por medo ou por fé, que, se eu me suicidasse,
não teria sepultura em solo cristão, nem seria recebido no Reino de Deus — vi,
próximo ao hotel, dois indivíduos hercúleos agredindo outro!
Corri
em socorro da vítima, sem mesmo lembrar-me de que possuía um revólver, pois não
tinha o hábito de usar armas.
Os
agressores fugiram. E, quando me acerquei da vítima, verifiquei que ela estava
morrendo. Aquela morte inesperada fez-me voltar à mente a ideia do suicídio.
Atentamente, examinei o homem tombado e verifiquei que ele não apresentava
nenhum sinal de vida... E que se eu fosse considerado o assassino, seria
condenado à morte. Movido não sei por que força, que não pude dominar, saquei o
revólver e atirei para crânio do morto. Vendo policiais aproximarem-se, tentei
fugir, já arrependido do que havia feito... Mas, preso, voltou-me à cabeça o
plano que arquitetara e que logrou êxito, pois fui condenado e serei executado
pela Justiça de Sua Majestade Britânica, que, assim, me permitirá um suicídio
sem pecado.
Muito
verdadeiramente Vosso
John Sallisbury.”
Fonte: Careta, edição
de junho de 1938.
Essa revista Careta é porreta. Não me esqueço o conto do Maupassant, O Mendigo...Aqui na minha cidade, no centro, tem um monte de "Sinos" rss rss rss de vez em quando um me pede dinheiro; dou uma moeda mas começo a conversar...a vida dos caras dá um conto de terror, eles me contam rsss rsss
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