O ESPECTRO SALVADOR - Narrativa Verídica - Job de Castro


O ESPECTRO SALVADOR
Job de Castro
(Séc. XIX)

Um guarda-marinha russo estava em Pavlovsky com a família, quando recebeu ordem de partir imediatamente. Ao despedir-se dos parentes, recomendou especialmente à sua irmã que pensasse nele constantemente, porque isso, decerto, lhe traria felicidade.

Passado um mês, a jovem, numa noite, teve, de repente, um desmaio. Quando voltou a si, contou que se tinha visto transportada para o meio de uma tempestade. Lembrava-se nitidamente de haver encontrado irmão, que nadava desesperadamente para uma ilhota rochosa, onde efetivamente caiu com a cabeça ensanguentada.

 Eram dez horas. Julgaram todos que se tratasse apenas de um mau pesadelo. No dia seguinte, foram surpreendidos com um telegrama do guarda-marinha que dizia somente: “Estou vivo. Agradeço muito a minha irmã. Até breve.”

Que podia ele agradecer? Ninguém chegou a compreender.

Pouco depois, os jornais noticiavam que o navio em que o moço estava embarcado naufragara perto das ilhas de Aland, na Finlândia. Ainda isto, porém, não explicava os agradecimentos. Foi o guarda-marinha, único sobrevivente do desastre, quem veio esclarecer as coisas. Disse ele que, ao achar-se lutando com as ondas, no mais forte do temporal, sentiu-se de súbito auxiliado e guiado por uma espécie de fantasma em que reconheceu a irmã. Ela o levava em uma direção desconhecida. Em certo momento, sentiu uma pancada muito forte na cabeça e desmaiou.

Pescadores, no dia imediato, encontraram-no em uma ilha deserta e socorreram-no. Seus agradecimentos dirigiam-se, portanto, à irmã, porque estava seguro de que tinha sido ela quem o salvara.

 


Fonte: “Revista da Semana”, edição de 12 de agosto de 1900.


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