O VAMPIRO BLAS FERRAGE - Narrativa Verídica de Horror - Anônimo do séc. XIX


O VAMPIRO BLAS FERRAGE
Anônimo do séc. XIX

Já falamos da prisão de um rapaz de 15 anos que atentara contra a vida da mãe, irmã e muitos companheiros, com o fim de lhes beber o sangue.

Submetido à análise dos médicos, declararam eles que o jovem se achava possuído de uma mania terrível pela antropofagia, e que, graças à sua pouca idade, seria possível corrigir esta perversão da inteligência de que a história médica oferece mais de um exemplo.

Dizem que de noite saía, furtivamente, de casa para entrar nos cemitérios, de onde desenterrava os cadáveres, recentemente sepultados, para lhes devorar as entranhas.

Este vampiro, que está hoje completamente curado, ainda não tem trinta anos, e os episódios da sua vida passada apresentam-se à memória como recordações confusas de um sonho.

Antigamente, julgara-se impossível combater esta terrível enfermidade. Em 1779 um rapaz, chamado Blas Ferrage, no qual se havia deixado desenvolver aquela predisposição à antropofagia, fugiu de repente da sociedade para entregar-se livremente a sua sanguinária inclinação. Escolheu para residência a concavidade de um rochedo, situado na serra de uma das montanhas do Aure. Na obscuridade da noite, descia daquela caverna e, como uma fera, nas suas excursões pelos campos roubava as mulheres e as crianças que encontrava, ou podia surpreender, matava-as e bebia-lhes o sangue até ficar saciado. Acostumara-se a não tomar outro alimento que não o sangue humano.

Às vezes, era visto agachado à entrada da sua habitação, esperando, com o ouvido alerta, numa completa imobilidade, a ocasião de assassinar alguém. Ia sempre armado com duas espingardas, pistola e um punhal. Era tal o terror que infundia, que se apresentava frequentemente nas povoações para renovar as munições, e ninguém se atrevia a recusá-las e,  nem mesmo, a prendê-lo.

Um dia, suspeitando que um lavrador procurara descobrir o seu esconderijo, deitou-lhe fogo. Aos moleiros solitários, que se extraviavam pelas montanhas, apresentava-se a eles como queria, levava-os para a sua caverna, e degolava-os. Debalde oferecera a autoridade uma grande recompensa à pessoa que conseguisse entregar este monstro à justiça. Ferrage, sempre em guarda, escapava a todas as investigações. Finalmente, um homem da região, fingindo que queria passar uma vida selvagem, retirou-se, como ele, ao ponto mais elevado dos rochedos, e se encontraram.

O antropófago apartava-se, ameaçando o seu companheiro de solidão, e respondia aos seus cumprimentos metendo-lhe a espingarda na cara, mas o intrépido camponês sabia evitar as balas. Gritava-lhe que era sem razão que desconfiava dele e que, associando-se, melhor escapariam à perseguição de que eram alvo.

Com o tempo, Ferrage deixou-se persuadir. Numa noite, enquanto dormia, o companheiro desarmou-o e o entregou aos munícipes que o perseguiam. Levado à cadeia de Toulouse, foi julgado pelo tribunal daquela cidade e condenado a ser esquartejado vivo.  A sentença foi executada em 12 de dezembro de 1792.  Ferrage acabava de completar 25 anos e havia quatro que se alimentava unicamente de carne humana.


Fonte: “Periódico dos Pobres” (RJ), edição de 22 de julho de 1852.



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