O DOUTOR DONNA - Conto de Horror - Anônimo do Séc. XIX
O
DOUTOR DONNA
Anônimo
do século XIX
Logo
que o doutor Donna, estimável eclesiástico, tomou posse em sua primeira
paróquia, foi ao cemitério, onde, nessa
ocasião, se achava o coveiro fazendo uma cova: desenterrou uma caveira, pegou-a e,
examinando-a, achou um preguinho sem cabeça cravado no lugar de uma das têmporas.
O
pároco tirou-o, sem que o coveiro o visse, e atou-o na ponta do seu lenço de assoar.
Depois, perguntou ao coveiro se sabia de quem era aquele crânio, e ele lhe
respondeu que era de um homem que tinha um armazém de aguardente, bêbado, mas
homem honrado, que, tendo uma noite tomado uma dose maior daquele líquido, fora
achado, no dia seguinte, morto na cama.
—Era
casado? — perguntou o padre.
—Sim,
senhor.
—Que
dizem de sua mulher?
—Muito
bem — respondeu o coveiro. Os vizinhos só notaram o ter ela tornado a casar no
dia seguinte ao do enterro de seu marido.
Foi
o que o doutor quiz ouvir e, com o pretexto de visitar os seus paroquianos, foi
à casa dessa mulher.
Fez-lhe
diversas perguntas, e entre outras, a de que moléstia tinha morrido seu marido,
ao que ela respondeu o mesmo que o coveiro. Então o Doutor desatou o lenço, e,
gritando com um tom de autoridade, disse:
—
Desgraçada! Conheces este prego!
Ferida
de horror por uma acusação tão imprevista, confessou o seu crime imediatamente.
Fonte: “O Recreio –
Jornal das Famílias”, abril de 1842.
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