A EXECUÇÃO DE LUÍS XVI SEGUNDO O SEU PRÓPRIO CARRASCO - Narrativa Verídica - Charles-Henri Sanson
A
EXECUÇÃO DE LUÍS XVI SEGUNDO O SEU PRÓPRIO CARRASCO
Charles-Henri
Sanson
(1739
– 1806)
O seu autor,
Jacques-Antoine Dulaure (1855 – 1843), ligado aos jacobinos, fora eleito em
setembro de 1792 à Convenção Nacional e,
como parlamentar investido na função jurisdicional, votara pela morte do rei.
Segundo Dulaure (1835 –
1843), o rei teria enfrentado covardemente a morte na guilhotina. Citando
Charles-Henri
Sanson, o verdugo executor de Luís XVI,
como fonte, o artigo infamante dizia
que, diante da horrenda máquina de morte, o rei gritara:
— Estou perdido!
Foi ninguém menos que Sanson
quem acorreu em defesa do rei ultrajado. Demonstrou, com a sua inegável autoridade de carrasco
oficial de Paris, o quão falso e tendencioso era o artigo nominado, justa e
ironicamente, “Relato exatíssimo sobre a morte de Louis Capeto”.
Eis o teor da carta, redigida pelo verdugo — e dirigida ao jornal
—, restabelecendo a verdade quanto à conduta do rei no cadafalso:
Ao
sair da carruagem para ser executado, disseram-lhe que deveria despir-se. Ele
levantou algumas dificuldades, redarguindo que podia ser executado assim como
estava. Advertido de que tal era impossível, ele próprio ajudou a tirar o casaco.
Voltou a levantar a mesma dificuldade quando se tratou de atar-lhe as mãos; mas
ele as estendeu quando a pessoa que o
acompanhava disse-lhe que era um último sacrifício.
Depois,
perguntou se os tambores continuariam a rufar, e lhe disseram que não sabiam, o
que era verdade. Subiu ao cadafalso e quis adiantar-se, como que para falar;
mas preveniram-no de que era impossível. Permitiu-se levar para o lugar onde fora
amarrado e de onde, muito alto, gritou: "Povo, morro inocente!”. Dirigindo-se a nós, disse: "Senhores, sou
inocente de tudo aquilo de que sou acusado; desejo que o meu sangue possa
cimentar a felicidade dos franceses”.
Estas
são as suas verdadeiras e últimas palavras. Aquela pequena espécie de discussão,
travada ao pé do cadafalso, versou sobre o fato de que ele achava desnecessário
despir a casaca e ter as mãos atadas. Propôs, também, cortar ele mesmo os seus cabelos.
Para
prestar homenagem à verdade, digo que ele suportou tudo aquilo com uma
compostura e firmeza que nos surpreendeu a todos. Estou firmemente convencido
de que ele retirou essa firmeza dos princípios da religião, dos quais ninguém
parecia mais compenetrado e persuadido do que ele.
Podes
usar a minha carta como contendo a verdade mais verdadeira e mais exata.
Tradução de Paulo Soriano
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