A MÃO FECHADA - Conto Clássico de Terror - Farnsworth Wright
A
MÃO FECHADA
Farnsworth
Wright
(1888-1940)
Solitária,
a casa erguia-se como um fantasma através das árvores desbotadas que pareciam estremecer
ao toque de suas paredes. O verde musgo da decomposição jazia nos seus telhados
úmidos, e as janelas, inseridas em cavidades profundas, olhavam cegamente para
o mundo como que através de órbitas vazias. O seu aspecto era tão aterrador que
as crianças, ao aproximarem-se dela, deixavam de assobiar e de rir e passavam
ao outro lado da rua.
No
outro lado do campo, algumas cabanas amontoadas olhavam através da chuva, como
se perguntassem qual família poderia ser corajosa bastante a se instalar entre as
sombrias paredes daquela velha mansão, que permanecia desabitada há, pelo
menos, dois anos.
Num
quarto do sótão da casa, duas irmãs conservavam-se na cama, mas não dormiam. A
irmã mais nova encolheu-se sob o pavor inspirado pelo lugar. A mais velha riu
daqueles temores, mas a mais nova sentiu o feitiço do velho edifício e teve
medo.
—
Suponho que nada há que realmente me assuste nesta triste casa velha — admitiu
ela, sem muita convicção em sua voz —, mas a sensação que ela me causa é
horrível. Mamãe não nos devia ter deixado sozinhas neste lugar horrível.
—
Estúpida! — repreendeu a irmã. — Com toda a prataria do andar de baixo, alguém
tem de estar aqui por causa dos ladrões.
—
Oh, não fale de ladrões! — suplicou a menina mais nova. — Estou com medo.
Continuo a imaginar que ouço os passos de um fantasma, muito perto.
—
Vá dormir, Goosie! — disse a mais velha. — As casas assombradas não passam de
superstições. Eles existem apenas na imaginação.
—
Então, por que é que ninguém mora aqui há dois anos? Disseram-me que, num
espaço de cinco anos, todas as famílias se mudaram depois de ficarem aqui por
pouco tempo. Toda a atmosfera desta casa é horrível. E não posso me esquecer de
como a garota de Berkheim foi encontrada esfaqueada até a morte, e ninguém nunca
soube como isso aconteceu. Ela pode ter sido assassinada neste mesmo quarto!
—Vá
dormir e não se assuste falando essas coisas. Mamãe estará conosco amanhã à
noite e papai estará de volta no dia seguinte. Agora, vá dormir.
A
irmã mais velha logo adormeceu, mas a pequena permanecia deitada com os olhos
abertos, fitando o quarto escuro, e estremecendo a cada ruído sufocado do vento
ou grunhido distante do trovão. Começou a contar, na esperança de hipnotizar a
si mesma, mas a cada pequeno ruído se sobressaltava e perdia a conta.
De
repente, ela virou-se e sacudiu a irmã pelo ombro.
—Edith,
alguém está nas escadas! —sussurrou. — Ouça!
A
irmã mais velha acendeu um fósforo. A chama de uma vela iluminou palidamente o
lugar. Depois, vestiu um roupão e calçou os chinelos.
—Não
vá! Edith, diga-me que não vai descer. Talvez seja a moça de Berkheim assassinada!
Edith, não...
Edith
lançou um fulminante olhar de desprezo à
sua irmã, que jazia na cama com o rosto pálido e os olhos muito abertos.
—
Há algo se mexendo lá embaixo, e eu vou descobrir o que é — disse ela.
Pegando
a vela, ela saiu do quarto. A sua irmã permanecia deitada na escuridão, ouvindo
o tamborilar da chuva no telhado e aplicando os ouvidos para captar o menor
som. O ruído no andar de baixo cessou, mas o vento encrespou e a chuva golpeou o
telhado em rajadas tão repentinas e furiosas que fizeram o seu coração saltar violentamente.
Passaram-se
dez minutos, vinte minutos, e Edith não havia regressado.
Uma
porta bateu e a irmã mais nova pensou ter ouvido algo se movendo novamente, mas
o vento começou a soluçar e a abafar todos os demais ruídos. Entre rajadas, ela
ouviu o som portentoso. Parecia cada vez mais próximo. Então, percebeu que algo
subia as escadas.
Pensou
ter ouvido um grito abafado. O vento juntou-se a essa voz lastimosa num dueto
estranho.
Mais
e mais próximo se escutava agora o estranho ruído. Galgava as escadas, passo a
passo, e crescia à medida que o vento e a chuva arrefeciam as suas vozes. Passou
o primeiro patamar e subiu lentamente o segundo, enquanto a menina, apavorada, esperava
pela sua chegada.
O
vento uivou até que a casa inteira estremeceu; passou pelo beiral e fugiu pelos
campos como um fantasma em fuga. E o pulsar do coração da menina abafou os
gritos do vento, pois a presença estava agora no seu quarto.
Ela
se encolheu sob os lençóis e uma fria transpiração regelou-lhe o corpo. A sua
imaginação evocava coisas terríveis: um espírito incorpóreo vinha para destruí-la
— um cadáver saído da sepultura, com terra no rosto — a moça assassinada de
Berkheim, com a faca ainda enterrada no coração — ou talvez algum animal
selvagem, lambendo os lábios em ávida antecipação da festa que o seu corpo trêmulo
iria proporcionar. Ou seria um assassino que, depois de ter matado a sua irmã, decidira-se
a completar o seu trabalho sangrento?
Um
raio rasgou o céu, e um trovão emitiu o seu terrível aviso. A menina atirou para
trás a roupa de cama e se encolheu contra a parede, com os olhos prestes a
saltar-lhe das órbitas, temerosa de que outro raio revelasse algo horrível
demais para ser visto.
Lentamente,
o ser se arrastou pelo chão, deslizou sobre a cama e emitiu um sonido de
agonia.
A
menina sentou-se, petrificada. Depois, timidamente, estendeu uma mão trémula,
mas rapidamente a retirou, temendo algum contato hediondo.
Novamente,
empurrou a sua mão trêmula para a escuridão, cada vez mais, até que tocou em
algo peludo e úmido.
Uma
mão úmida fechou-se sobre a dela, e a jovem se ergueu com um grito horrorizado
na garganta.
Uma
mão gelada apertou a sua com um tremor horripilante e arrastou-a para baixo. Então
os seus sentidos torturados cederam, e ela caiu inconsciente na cama.
Quando
acordou, já era dia. Ao seu lado, na cama, estava o corpo ensanguentado da sua
irmã Edith, esfaqueada no peito pelo ladrão que ela tentara afugentar.
A
mais nova segurava as mechas coaguladas de cabelos que caíam sobre o peito da
irmã, cuja mão fria se fechara sobre a sua no último estremecimento convulsivo
da morte.
Versão em português de
Paulo Soriano a partir da tradução espanhola de Sebastián Beringheli.
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