O FANTASMA BARBEIRO - Conto Clássico de Terror - Élisabeth Guénard de Brossin de Méré
O
FANTASMA BARBEIRO
Élisabeth
Guénard de Brossin de Méré
(1751-1829)
Tradução
de Paulo Soriano
Um
velho castelo da Saxônia era visitado por um fantasma que atemorizava todos quanto
se atreviam a permanecer em seu interior, e lhes fazia coisas terríveis, de
modo que estava completamente inabitado há muitos anos.
Um
jovem muito intrépido resolveu ali pernoitar, levando consigo provisões,
lanternas e armas.
À
meia-noite, quando se preparava para dormir, ouviu, à distância, o ruído de
correntes que se arrastavam ao longo dos corredores.
De
repente, após um barulho de chaves, a porta do quarto se abriu e, diante dele,
surgiu um grande espectro, pálido, descarnado, com uma imensa barba, que tna
mão uma navalha.
O
jovem demonstrou firmeza e o espectro fechou a porta. Tendo-se aproximado da
cama, a aparição fez um sinal ao hóspede para que se levantasse, pôs-lhe uma
toalha de barbeiro às costas e apontou com um dedo para uma cadeira, sobre a
qual convidou o jovem a sentar-se.
O
alemão tremia um pouco, mas o seu medo aumentou quando viu o fantasma tirar de
um estojo uma velha bacia e uma grande navalha. Todavia, tranquilizou-se e
deixou o espectro agir.
O
fantasma procedeu com suma gravidade. Ensaboou e escanhoou-lhe acuradamente
queixo e tosou-lhe o cabelo. Depois, recolheu o lenço dos seus ombros.
Até
então, nada de extraordinário havia acontecido: sabia-se que o espírito assim
fazia com todos os que passavam a noite no castelo. Contava-se, também, que,
depois de tosar os visitantes, o espectro derrubava-os com os golpes desferidos
por seu punho descarnado de esqueleto.
O
jovem, barbeado, se levantou da cadeira, sem poder dominar o tremor que o medo
lhe impingia. Cravou os olhos no espectro, como se para saber se deveria pegar
as armas. Mas, como havia conservado alguma presença de espírito, acalmou-se ao
ver que o fantasma ocupava o seu lugar na cadeira, e apontava para a navalha que
havia deixado sobre uma mesa.
Até
então, todos os que vieram àquele castelo eram presa de um medo tão intenso que
desmaiavam enquanto eram barbeados; e era isto, sem dúvida, que demandava a fúria
e as pancadas do espectro.
O
jovem reparou na longa barba da aparição e compreendeu, imediatamente, que o
fantasma lhe rogava o mesmo serviço que acabara de lhe prestar. Então, ensaboou
o espectro e lhe rapou corajosamente o queixo e a cabeça.
Assim
que terminou, o fantasma, que até então permanecera em silêncio, se pôs a falar
naturalmente. Chamou ao jovem seu libertador e contou-lhe que, outrora, era o
soberano daquela região; que tinha por costume a inospitalidade de rapar
impiedosamente todos os peregrinos que iam dormir no seu castelo. Mas, para puni-lo,
um piedoso monge, que voltava da Terra Santa, o condenou a barbear, depois de
morto, todos os seus hóspedes, até que encontrasse um, bastante corajoso, que
também o barbeasse.
—
Faz trezentos anos que dura a minha penitência — acrescentou o espectro.
E,
depois de renovar os agradecimentos, desapareceu.
O
jovem, plenamente tranquilizado, dormiu muito bem. Comprou, a baixo preço,
aquele castelo, nos quais passou dias felizes, para o espanto e surpresa da gente
simples, que o via como um hábil encantador.
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