A MACABRA DESCOBERTA DE BILLING - Narrativa Clássica Sobrenatural - Catherine Crowe
A MACABRA
DESCOBERTA DE BILLING
Catherine Crowe
(1803 – 1876)
Tradução de Paulo Soriano
Um
acontecimento singular, ocorrido em Colmar, no jardim do poeta Pfeffel[1],
tornou-se conhecido por vários escritos. Os fatos essenciais são os seguintes:
O
poeta, sendo cego, empregou um jovem clérigo, da Igreja Evangélica, como secretário.
Quando saía, Pfeffel apoiava-se a este jovem, que o conduzia. Enquanto
caminhavam por um jardim, a alguma distância da cidade, Pfeffel notava que, sempre
que passavam por um determinado local, o braço de Billing tremia e ele traía
alguma inquietação.
Ao
ser questionado, o jovem confessou, com relutância, que tantas vezes quanto
passava por aquele local, algumas sensações o oprimiam a ponto de não conseguir
controlar-se. Disse que conhecia bem aquela sensação, pois sempre a
experimentava quando passava por qualquer lugar onde haviam sido sepultados
corpos humanos. Acrescentou que, à noite, quando ele se aproximava de tais
lugares, via aparições sobrenaturais.
Pfeffel,
com o objetivo de curar o jovem do que ele considerava mera fantasia, foi com
ele, naquela noite, ao jardim. À medida que se aproximavam do local, Billing
percebeu uma luz fraca a cintilar na escuridão e, quando chegou ainda mais
perto, viu uma figura fantasmagórica, luminosa, flutuando sobre o local. Ele a
descreveu como uma forma feminina, com um braço cruzado sobre o corpo e o outro
pendurado. O espectro flutuava numa postura ereta, mas tranquila, com os pés a
apenas um palmo ou dois da superfície.
Pfeffel
seguiu sozinho — já que o jovem se recusou a acompanhá-lo — até o local onde a
figura estava, e avançou em todas as direções com a sua bengala, chegando mesmo
correr em meio as sombras. Apesar disto, espectro não foi mais afetado do que
teria sido uma labareda. A forma luminosa, de acordo com Billing, sempre retornava
à posição original após essas investidas.
Durante
vários meses, fizeram-se investigações no local, e numerosos grupos de pessoas para
lá acorreram, mas a questão permaneceu como estava. O vidente, todavia,
continuava aferrado à séria e inabalável convicção de que algum ente humano
estava enterrado no jardim.
Por fim, Pfeffel mandou cavar no lugar. A uma
profundidade considerável, encontraram uma camada firme, muito espessa, de cal
branca, do comprimento e largura de uma sepultura. Transposta a camada, descobriram-se
ossos de um ser humano.
Era
evidente que alguém havia sido enterrado no local e coberto com uma espessa
camada de cal viva, como geralmente é feito em épocas de pestilência, de
terremotos e outros eventos semelhantes.
Os
ossos foram removidos, a cova coberta, a cal espalhada no exterior e a
superfície novamente aplanada. Quando trouxeram Billing de volta ao local, os
fenômenos não voltaram a acontecer, e o espírito noturno havia desaparecido
para sempre.
[1]
Gottlieb Konrad Pfeffel (1736 – 1809), poeta alemão, cujos textos foram
musicados por Beethoven, Haydn e Schubert.
Ótimo!!
ResponderExcluirGostei!!
ResponderExcluirBom
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