FOME - Conto de Horror - José Manuel González Rodríguez
FOME
José Manuel González Rodríguez
Tradução de Paulo Soriano
Julián
abriu os olhos.
Estava
deitado de costas. Tentou olhar em torno de si, mas logrou apenas girar um
pouquinho a cabeça.
Havia
conseguido!
Como
gostaria, agora, de ver a cara de todos os que riram dele quando decidiu
congelar-se para abandonar aquela época de penúrias!
Logo,
porém, se arrependeu daquele pensamento, porque os seus amigos já estavam
mortos há muito tempo. Tinham-lhe dito que aquilo tudo era uma trapaça — e até
o fizeram duvidar —, mas nunca saberiam o quão estavam enganados.
Gastara
tudo o que tinha, mas valera a pena. O contrato estipulava que não seria
despertado antes que o mundo superasse a crise alimentar. Agora poderia viver o
resto de sua vida comendo as delícias que, em sua época, estavam apenas ao
alcance de milionários, sem ter que disputar com os vizinhos aquela gororoba
distribuída pelo governo.
Alguns
minutos depois, conseguiu virar o pescoço o suficiente para constatar que a mesa
ao lado era ocupada por um homem nu.
“Outro
cliente”, pensou, mas assustou-se ao ver que faltava ao homem um braço, e que,
embora parecesse cauterizada, a ferida ainda ressumava algum sangue.
Ele
havia sido avisado de que o congelamento podia produzir eleitos secundários,
mas nunca imaginou que poderiam ser tão graves. Fazendo um esforço supremo,
Julián pôde mover os seus membros por uns milímetros, o suficiente para
comprovar que não lhe faltava nada.
A
porta se abriu e alguém entrou na sala; Julián só pôde vê-lo quando o estranho se
abeirou à mesa de seu vizinho.
Vestia
um uniforme imaculadamente branco e tinha a cabeça coberta por um chapéu
alongado. Julián tentou falar, mas a
paralisia, que o aprisionava, o impediu de articular palavra.
“Como
é ridículo o uniforme dos médicos desta época”, pensou Julián, divertido,
desejando ansiosamente que lhe dessem alta para ver as maravilhas do mundo
afora.
O
recém-chegado virou-se para a porta e gritou:
—
Marcos!... O que foi que o pessoal da mesa quinze pediu mesmo? Perna ou braço?
Gostei!!
ResponderExcluiressa foi tensa
ResponderExcluirEita, que terror!
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