O BRUCOLACO - Narrativa Clássica Sobrenatural - Collin de Plancy

 


O BRUCOLACO

Collin de Plancy

(1794 – 1881)

 

Certo homem, que morrera excomungado, em razão de uma transgressão que havia cometido em Morea, foi enterrado, sem cerimônias fúnebres, num lugar apartado e não em terra santificada.

Em seguida, viram-se os habitantes aterrorizados por contínuas aparições que atribuíam àquele infeliz.

Abriram-lhe o sepulcro e encontraram o seu cadáver inchado, mas incólume e íntegro. As veias estavam cheias do sangue que havia sugado, o que permitiu que fosse reconhecido como um brucolaco, nome que os gregos dão aos vampiros ou espectros de excomungados.

Os gregos e os turcos acreditam que os cadáveres dos brucolacos alimentam-se durante a noite, passeiam e fazem a digestão do que ingeriram. Contam, também, que, desenterrando estes vampiros, encontram-nos corados, tendo as veias salientes em razão da quantidade de sangue que chuparam.  Dizem que, quando se lhes abrem os corpos, saem jorros de sangue tão fresco quanto o de um jovem de temperamento sanguíneo.

Depois de haverem deliberado o que haviam de fazer com o cadáver, os monges gregos emitiram o juízo de que deveriam desmembrar o corpo, reduzindo-o a pedaços, e pô-lo a ferver em vinho, porque era assim que, desde os mais remotos tempos, eram tratados os brucolacos.

Todavia, puseram o corpo na igreja, onde oraram todos os dias por seu repouso. Uma manhã, enquanto o monge celebrava a missa, ouviu-se no caixão uma espécie de estouro. Aberto o ataúde, encontraram o corpo dissoluto, apresentando-se como costuma estar o de um defunto aos sete anos de enterrado.

Notou-se o momento em que se ouviu o ruído: aconteceu, como depois ficou constatado, no mesmo instante em que o patriarca assinou a absolvição pedida.

 

Versão em português de Paulo Soriano. Fizeram-se adaptações textuais.

 

 


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