UM LOBISOMEM EM PALERMO - Narrativa Clássica de Terror - Montague Summers
UM LOBISOMEM EM
PALERMO
Montague Summers
(1880 – 1948)
Tradução de Paulo Soriano
No
sestiere del Borgo de Palermo vivia uma senhora muito devota, de honra e
reputação imaculadas.
Certa
noite, durante suas devoções, ela ouviu, sob a janela, o uivo sinistro de um
lobo.
Espiando
através das pesadas cortinas, ela viu, no pátio iluminado pela luar, não muito abaixo
da janela, um monstro terrível. Enorme e esguio, ele avançava, exibindo os dentes
brancos e afiados, preparados para rasgar e dilacerar. Entre as presas, assomava
uma língua enorme e salivante. O animal mantinha o focinho erguido, farejando o
vento com grande apetite.
A
fera fez uma pausa e, depois, avançou furtivamente. De súbito, com uma
agilidade demoníaca, deu um salto e escalou a própria loggia.
Cheia
de coragem, e recomendando-se a Nossa Senhora e a Santa Rosália, a senhora empunhou
uma adaga afiada e corajosamente saiu para a varanda.
Com
um grunhido e um estalido, a coisa saltou sobre ela. Os olhos da fera brilhavam
com uma fúria infernal. Seu terrível hálito era quente, fétido e ofegante, e uma
espuma escorria de suas mandíbulas arreganhadas.
Inspirada
pelo Céu, ela atacou a besta com toda força. Enquanto o aço cortava
profundamente, e com precisão, a fronte cabeluda, de onde escorria um sangue
negro, o lobo pareceu encolher-se, caindo para trás. Claudicando, a fera
refugiou-se rapidamente nas sombras.
Na
manhã seguinte, chegou à casa da senhora um mordomo, seguido por dois servos,
trazendo-lhe presentes valiosos como sedas e joias, vinhos raros e trajes
suntuosos. Rogava que a senhora os aceitasse em nome de seu mestre, um príncipe
da família reinante, a quem, por sua ação corajosa e piedosa, havia livrado da
abominável licantropia, quando, em sua loucura, ele a atacara na noite
anterior.
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