A MÃE DEFUNTA - Conto Clássico de Terror - Aleksandr Afanassiev
A MÃE DEFUNTA
Aleksandr
Afanassiev
(1826 – 1871)
Em certa aldeia viviam — amorosa e
pacificamente felizes — marido e mulher. Todos os vizinhos os invejavam. A
presença daquele casal era aprazível à gente honesta. Bem, a senhora deu à luz
um filho. Todavia, logo após o nascimento da criança, ela morreu. O pobre
mujique[1]
chorava e gemia. Desesperava-o, sobretudo, o destino da criancinha. Como
iria alimentá-la agora? Como educá-la sem a mãe? Naquelas
circunstâncias, ele fez a melhor escolha: contratou uma velha ama para cuidar do
bebê. Mas algo extraordinário acontecia! Durante todo o dia, o bebê nada
comia e nada fazia além de chorar. Não havia como acalmá-lo. Mas, durante boa
parte da noite, podia-se imaginar que ele nem estava em seu berço, de tão silencioso
e pacífico que era o seu sono.
— Mas o que é que está acontecendo? — pensava
a velha ama. —Se eu ficar acordada esta noite, talvez descubra.
Bem, somente à meia-noite a ama ouviu alguém abrir silenciosamente
a porta e acercar-se do berço. O bebê ficou imóvel, como se alguém o
amamentasse.
Na noite seguinte, aconteceu a mesma coisa, e,
também, na terceira. Então a velha ama contou ao mujique o que sucedia à
criança. O mujique reuniu seus parentes e aconselhou-se com eles. Decidiram
por uma vigília noturna, na qual poderiam espiar quem vinha amamentar o
bebê. Assim, ao entardecer, todos se deitaram no chão e, ao seu lado,
colocaram uma vela acesa, escondida num pote de barro.
À meia-noite, a porta da cabana se
abriu. Alguém se aproximou do berço. O bebê ficou
imóvel. Naquele momento, um dos parentes, de repente, trouxe a luz. Olharam
e viram que lá estava a mãe morta, com as mesmas roupas com as quais fora enterrada,
ajoelhada junto ao berço, sobre o qual ela se curvava, enquanto amamentava o
bebê com seu seio morto.
No instante em que a luz brilhou na
cabana, ela se levantou, olhou tristemente para o seu filho e depois saiu da
sala sem fazer barulho e sem dizer uma palavra a ninguém.
Todos os que a viram se levantaram,
momentaneamente dominados pelo terror. Depois, descobriram que o bebê estava
morto.
Versão em português de
Paulo Soriano, a partir da tradução ao inglês de William S. R. Ralston (1828 –
1889).
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