CANIBALISMO EM PARIS - Narrativa Clássica de Horror - Amédée de Ponthieu
CANIBALISMO EM
PARIS
Amédée de Ponthieu
(Séc. XIX)
Tradução de Paulo Soriano
A casa dos Marmousets
foi arrasada por decreto do parlamento, em razão de um crime famoso nos anais
de Paris.
Na
casa, que compunha a esquina da rue des Marmousets com a dos Deux-Hermites,
via-se pendurada a tabuleta de um barbeiro judeu. Seu vizinho era um chefe
pasteleiro.
Dentre
os que ingressavam na barbearia, vários não saíam. Quando o barbeiro lidava com
clientes com considerável excesso de peso, ou de tenra idade, em vez de
rapá-los, ele empregava um balancim que os enviava ao fundo de um porão. Lá,
eles eram mortos e, depois, entregues, ainda quentes, ao sócio — o pasteleiro
vizinho —, que vendia patês de renomada delicadeza à clientela. Esta, sem o
saber, praticava o canibalismo.
Sucede
que o cão de um cliente, que jamais saíra da barbearia, insistiu em ficar na
porta, esperando o seu dono.
Não
importava o quanto o arredassem dali, pois ele sempre voltava, e lá emitia uivos lastimáveis.
A
mulher do pobre diabo, procurando-o em todos os lugares, encontrou o cão, que
não queria sair de seu posto, e que a puxava com os dentes pelo manto, como se
quisesse fazê-la entrar na barbearia. Uma suspeita perpassou o espírito da
mulher. Contou o caso ao tenente de polícia, que mandou revistar a barbearia.
Descendo
ao porão, encontraram, sobre uma pilha de ossos humanos, os restos mortais da
última vítima, meio desmembrada pelo mestre pasteleiro.
O
barbeiro e o pasteleiro foram queimados vivos, cada um em uma gaiola de ferro,
e a casa arrasada. A efígie do cão foi reproduzida em um pilar que ainda podia
ser visto há alguns anos, como um memorial a esta trágica aventura.
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